“Os Sertões” por Afrânio Peixoto

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Um livro os concretiza [nacionalismo, independência e autonomia intelectual] a propósito de tema nacional, em que entra a terra do Brasil, o coração mesmo profundo dele, o sertão do Brasil, a mais legítima gente brasileira, porque nem é mais o íncola, nem o africano, nem o reinol, porém o derivado deles, o brasileiro caldeado e no seu esboço mais definido, – o sertanejo; e esse livro se escreve em estilo brasileiro, com a ênfase, a truculência, o excesso, a exuberância, o brilho, o arremesso, a prodigalidade, a magnificência, que nos caracterizam e talvez nos singularizem. É o livro e o estilo de Euclides da Cunha. Todos os brasileiros se reveem nestas páginas que idealmente todos queriam poder escrever, porque é assim que se exprimiriam, se tivessem o dom e a arte da escrita literária. É por isso o estilo nacional.

Afrânio Peixoto, Poeira da estrada, 2. ed., Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1921.

“Os Sertões” por Vargas Llosa

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Creio que [Os Sertões] vale por muitas coisas, mas sobretudo porque é como um manual de latino-americanismo, quer dizer, neste livro se descobre primeiro o que não é a América Latina. A América Latina não é tudo aquilo que nós importávamos. Não é tampouco a Europa, não é a África, nem é a América pré-hispânica ou as comunidades indígenas — e ao mesmo tempo é tudo isso mesclado, convivendo de uma maneira muito áspera e difícil, às vezes violenta. E de tudo isso resultou algo que muito poucos livros antes de Os sertões haviam mostrado com tanta inteligência e brilho literário.

SETTI, Ricardo. Conversas com Vargas Llosa. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 39.