Os Sertões por Monteiro Lobato

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…estudou Euclides da Cunha um dos dramas de nossa crueldade. Os outros, que o temos em número maior do que se supõe, jazem em branco, à espera de novos Euclides, suficientemente artistas para fixá-los em obra de verdade e arte. No geral esses dramas permanecem ignorados do país. (…) Canudos teve a sorte de topar em seu caminho um a serviço de uma consciência. Não fora isso, e o drama lá estaria hoje reduzido à mentiralha de encomenda dum relatório tendencioso, apologético para o vencedor, capaz de meter na história, como heróis, a gente que Euclides atou ao pelourinho. (…) O meio de neutralizá-lo é um só: contrapor-lhes Euclides. Infelizmente os Euclides são raros, e centenas de dramas se desenrolam antes que surja um.

Monteiro Lobato, 1920

Os Sertões por Samuel Putnam

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[Os Sertões] é uma das mais admiráveis obras que se tem escrito em todos os tempos. Quanto posição que merece na estima e afeição de todo um povo, só pode ser comparada à Divina Comédia, ou ao Dom Quixote. Como os grandes clássicos, Os Sertões é a expressão profunda da alma de uma raça, tanto na sua força, quanto na sua confessada fraqueza.

Samuel Putnam (tradutor d‘Os sertões para a língua inglesa), 1948

Os Sertões por Guimarães Rosa

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As páginas de Euclides rodaram voz, ensinando-nos o vaqueiro, sua estampa intensa, seu código e currículo, sua humanidade, sua história rude. E tinha conteúdo e direção o que Euclides comunicava em seus superlativos sinceros, na qualidade que melhor lhe cabia dar, nesta nossa largueza descentrada, de extremas misturas humanas, numa incomedida terra de sol e cipós.

Guimarães Rosa, Folha de S. Paulo, São Paulo, 1º de dezembro de 2002. Caderno mais!

Os Sertões por Marco Antonio Villa

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…esse reencontro com a história do Brasil e com Canudos ocorreu devido à leitura de Os Sertões. Desde então é uma relação de amor e ódio. Vez ou outra fico irritado com determinadas explicações euclidianas. Mas o mau humor passa quando a leitura segue e a cada página volto a ficar encantando: é uma espécie de feitiço.

Marco Antonio Villa, Folha de S. Paulo, São Paulo, 1º de dezembro de 2002. Caderno mais!

Os Sertões por Eduardo Lourenço

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Conheci tarde o livro de Euclides. Por dever de ofício, primeiro, por paradoxal sedução, depois. Não creio que tenha verdadeira leitura para quem não conheça o Brasil. Precisamente o Brasil que Euclides inventa escrevendo-o por paixão de geógrafo e empenhamento jornalístico e político. Em todos os sentidos, “Os Sertões” é um livro não só singular, mas insólito. É como uma estátua da ilha de Páscoa na paisagem, nem sequer literária, brasileira. Está aquém e além da literatura. Certas descrições são célebres (o higrômetro). O todo, inóspito, abrupto, arcaico, tornou-se mítico.

É um livro que o leitor deve construir com o material apenas elaborado do autor que está ao mesmo tempo fora do seu texto e dentro dele. A revolta de Canudos, que devia ser uma mera excrescência da sua ficção ctônica e antropológica, revela-o a si mesmo como um Homero bárbaro, como todos os Homeros. A crônica de um episódio excêntrico de um mundo excêntrico converte-se, graças à sua paixão cívica e ética, em adivinhação e compaixão proféticas por conta do futuro. A crônica de um Brasil como o avesso do Paraíso. Com Antônio Conselheiro como um redentor sem redenção.

Eduardo Lourenço, Folha de S. Paulo, São Paulo, 1º de dezembro de 2002. Caderno mais!

Os Sertões por Ferreira Gullar

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Eu tinha que ler Os Sertões se queria ser um escritor brasileiro. Meti isso na cabeça e entreguei-me à tarefa obrigatória. No início foi penoso, mas, bravamente, atravessei as áridas páginas da primeira parte, ‘A Terra’, e passei ao capítulo seguinte, de travessia igualmente difícil, pelo menos até chegar aos tipos humanos – o sertanejo, o vaqueiro, o jagunço… Meu interesse era conhecer a história de Antônio Conselheiro, que se tornara lendária, tema dos cordéis da infância. E, quando a ela cheguei, não larguei mais o livro até a última página do derradeiro capítulo.

Ferreira Gullar, Folha de S. Paulo, São Paulo, 1º de dezembro de 2002. Caderno mais!