Sinceridade

Detalhe de capa de Os Sertões

Repito: não me preocupo com o destino literário daquele livro que é, afinal, um desgarrão na rota da minha engenharia rude; ele tem o mérito único da sinceridade; é o depoimento de uma testemunha e terá extraordinário valor se conseguir fornecer a futuros historiadores uma página única ― mas verídica e clara.

Euclides da Cunha em carta a José Veríssimo, Lorena, 24 de dezembro de 1901.

Chuva

Embruscado em minutos, o firmamento golpeia-se de relâmpagos precípites, sucessivos, sarjando fundamente a imprimadura negra da tormenta. Reboam ruidosamente as trovoadas fortes. As bátegas de chuva tombam grossas, espaçadamente, sobre o chão, adunando-se logo em aguaceiro diluviano…

Euclides da Cunha, Os Sertões, A Terra, IV, A Tormenta.

Catanduva

catanduva
Planta inteira da Catanduba com céu azul ao fundo. Espécie também conhecida como Angico, Angico-de-bezerro, Carrasco, Jurema preta, Marmeleiro, Quipembe, Rama-de-bezerro. Foto: Gerda Nickel Maia, Parque Botânico

Toda a flora, como em uma derrubada, se mistura em baralhamento indescritível. É a ‘caatanduva’, mato doente, da etimologia indígena, dolorosamente caída sobre o seu terrível leito de espinhos!

Euclides da Cunha, Os Sertões, A Terra, IV, O juazeiro.

Queimada

Colaborando com os elementos meteorológicos, com o nordeste, com a sucção dos estratos, com as canículas, com a erosão eólia, com as tempestades subitâneas — o homem fez-se uma componente nefasta entre as forças daquele clima demolidor. Se o não criou, transmudou-o, agravando-o. Deu um auxiliar à degradação das tormentas, o machado do caatingueiro; um supletivo à insolação, a queimada.

Euclides da Cunha, Os Sertões, A Terra, V. Foto: Seca e queimada no cerrado, José Cruz/ Agência Brasil.