Correspondência ativa de 1907

Rio, 1º de janeiro de 1907

[cartão]

Ao velho amo. Escobar e família o

Euclides e sua família desejam as maiores venturas no correr do novo ano.

[Rio, 1907]

Rangel

Magnífico, o desenho! Mando, pelos teus braços amigos, um grande abraço ao Artur Lucas, a quem não tenho o prazer de conhecer.

Agora, anseio por acabar a minha rude prebenda para dedicar-me de todo coração ao nosso prefácio. Nosso, porque a exemplo do inteligente desenhista da Obstinação hei de inspirar-me nas mesmas páginas que esculpistes.

Se tivesse uma folga iria apresentar à sua Exma. mãe as minhas despedidas. Em todo o caso faço desde já os melhores votos pela sua felicidade e peço-te que lhe transmitas as minhas respeitosas saudações.

E até breve — dentro de um mês estarei, virtualmente, na Legação brasileira, em Paris, ao teu lado.

Recado do colega  — admor.

Euclides da Cunha

Rua Humaitá, 61

Rio, 10 de janeiro de 1907

Exmo. sr. barão do Rio Branco

Saúdo a V. Exa., desejando muitas felicidades.

Vi, hoje, na Imprensa Nacional, a 1ª prova do mapa do Brasil que desenhei por ordem de V. Exa.

E julgando ser conveniente completá-lo com os traçado das nossas linhas férreas existentes, em construção e projetadas, — consulto a V. Exa. pedindo dizer-me se posso fazer este ligeiro acréscimo.

Rio, 15 de fevereiro de 1907

Meu ilustre amo. dr. Oliveira Lima

Desejo-lhes as maiores venturas, e à Exma. sra., no belo remanso que me revelou na sua carta anterior. Realmente, se não fossem as exigências desta vida de pai de família com três filhos às costas, eu correria com a maior satisfação ao seu delicado convite. Mas não deivo deixar, agora, o Rio. Fui sempre um descuidado; e neste andar sempre em comissões, sem um emprego fixo gastei imprudente uma boa parte da vida. Não posso distrair-me ainda. Se aí fosse teria, também, vejo-o pela sua carta o prazer de encontrar-me com Alfredo de Carvalho a quem devo tantas gentilezas, e que com tanta generosidade tem-me perdoado os descuidos inevitáveis nesta minha existência trabalhosa. Peço-lhe abraçá-lo por mim. Li o seu artigo no Estado. O que ali está é a sua bondade e a sua nobilitadora afeição. Obrigadíssimo.

Leu os juízos de Veríssimo e de Araripe? O primeiro voltou à sua antiga birra contra a minha fraseologia arrevesada. Tem, talvez, razão. Mas já agora é um pouco tarde para que eu me liberte de semelhante estigma.

Estou escrevendo no Jornal, por obedecer a reiterados pedidos do dr. José Carlos Rodrigues. Mas como terá notado é uma colaboração espaçada, de 20 em 20 dias. Guardo, do meu vírus positivista, um pequenino rancor ao jornalismo. O pensamento também exige recatos. O livro abriga-o de algum modo. Um jornal é um resumo de praça pública. Felizmente, o o Comercio, na sua imponência conservadora, tem quase o aspecto austero de uma revista de páginas estiradas.

Continuo no Ministério das Relações Exteriores, onde, felizmente, sempre tenho encontrado alguns mapas a rever. Mas não julgo que dure muito este resto de Comissão agonizante.

Tudo muito arrependido de haver recusado uma, pessoalmente oferecida pelo dr. Afonso Pena, e que é a mesma confiada agora ao Bruno de Andrada. Mas como voltar já, tão cedo, outra vez, à monotonia acabrunhadora da Amazônia? Além disto teria de contrariar ao meu velho, e cometer o pecado de dar-lhe um desgosto numa idade em que lhos devo poupar.

Nada de novo. Aqui continuamos com a avenida Beira-Mar e o calor. É um encanto passar-se por ali às três horas! Decididamente os velhos portugueses tiveram carradas de razão para recortarem a velha metrópole de bitesgas estreitíssimas.

A velha metrópole evoca-me d. João VI; e daí, naturalmente, algumas perguntas: vai muito adiantado o trabalho? Não podemos ler aqui, no Jornal ou no Estado algum excerto antes da leitura definitiva no Instituto?

Creia que todos os seus amigos o aguardam com a mais simpática e ardente expectativa.

Mostrei ao Gastão o artigo sobre o Cabo Frio, que ele fez transcreverem no Diário de Notícias, tendo agradado a todos que o leram. Recomende-nos muito à Exma. Sra. e receba um apertado abraço do seu amo. e admor.

Euclides da Cunha

Rio, 27 de fevereiro de 1907

Fico-lhe muito abrigado, dr. Sousa Bandeira, pelas suas generosas palavras, no País de ontem, a propósito dos Contrastes e confrontos. Não me diz a vaidade que as mereça. O que ali se expõe num grande relevo é (incomparavelmente maior que o mérito do autor) a grande bondade e o espírito superior do crítico. Mas já é uma grande e verdadeira felicidade, nestes tempos, a estima e a simpatia dos homens do seu porte. Daí o meu agradecimento sincero, e a estima real no subscrever-me seu amo ato. e admor.

Euclides da Cunha
Rua Humaitá, 61

Rio, 20 de março de 1907

Dr. Oliveira Lima

Respondo imediatamente a sua prezada carta do 13 que li, adivinhando o seu belo espírito através dos hieróglifos da sua caligrafia, que está ficando cada vez mais misteriosa e impenetrável. Assim é que eu estou ainda em dúvida quanto ao nome do escritor venezuelano que me indicou. Angel Cesar Rivas. Nesta vacilação resolvi remeter ao sr., direitamente, o exemplar do livro pedindo-lhe o favor de o reenviar aí para correção — depois de concertado o nome, caso ele não tenha sido bem decifrado. P. S. O livro vai, registrado, pelo mesmo vapor.

Não vá, agora, diante do juízo tão desfavorável que faço da sua caligrafia deixar de remeter-me as suas letras. Creia que é ainda maior o encanto derivado das dificuldades da leitura graças ao contraste entre a limpidez da ideia e o obscuro da grafia. É o que acontece comigo. Não há quem não se espante ao ver-me pela primeira vez — tão esmirrado e deselegante. Há dias em casa do Coelho Neto, um certo Melo Mattos, que é deputado e usa roupas claras, patenteou escandalosamente o seu assombro brandando que me imaginava “bonito, elegantíssimo… e louro”! Não comentemos.

Felizes os que estão nessa gentil Tebaida da Cachoeirinha!… Porque a feição dos homens e das coisas nesta maloca de palácios pretensiosos é apavorante. Já deve ter visto pelos jornais como andamos cada vez mais decaídos dos belos atributos antigos — de reserva prudente, de sentimentos disciplinados e de retraída altivez. As festas do general Roca, por exemplo foram muito além do que imaginava o barão do Rio Branco, cuja iniciativa e intuitos eram compreensivos e justos. A nossa gente, porém, excedeu-se, e o gringo (com o qual estaremos amanhã, inevitavelmente, em luta) durante oito dias teve lisonjarias que lhe bastam à existência inteira. Por fim o representante do Clube Militar gemeu-lhe um tocante hino à paz… e fez a apologia da mulher!! Curiosíssimo e eloquente. Mas aterra-me a ideia que fará o matreiro caudilho da nossa virilidade e do nosso desassombro, ante o alambiscado lirismo dos nossos carregadores de espadas.

Às vezes planeio uma arrancada heróica e inflexível contra tudo isto: — uma ruidosa campanha a Alphonse Karr em que substituísse a ironia vibrátil, que me falta, pela pancada em cheio, da frase violenta e rude — amaldiçoando… Mas refreio os arremessos. Considero os filhos pequeninos e vou, como quase todos, na correnteza geral. Felizmente, julgo que estarei breve no deserto. O governo pensa em confiar-me a Superintendência geral dos serviços contra a seca; e a tarefa encanta-me porque não sei de outra onde melhor possa prestar os meus últimos serviços à nossa terra. Comunicarei o que houver de definitivo a este respeito.

Quando encontrar o Gastão, darei o seu recado. Mas julgo que ele não foi para Haia porque não quis; é um mineiro simples e cândido, com todo o desprendimento característico da raça. Não creio que o barão lhe recusasse o mínimo pedido naquele sentido. Muito breve escreverei de novo.

Recomende-me muito a Exma. sra. e creia sempre na verdadeira estima do

Euclides da Cunha

P. S. — Onde encontrar um livro daquele Venceslau Brás, a quem se referiu com tanto brilho?

Rio, 25 de abril de 1907

Meu caro Alberto Rangel

Aí vai o exemplar de teu belíssimo livro — que ainda hei de reler aí em tua casa, para destacar vários trechos.

Vou fazer o prefácio sem constrangimentos, e sem precisar do estímulo de uma amizade antiga. Encantou-me o Inferno. “Teima da Vida” é um rude e maravilhoso poema.

Hei de mostrar que naqueles capítulos há uma síntese dos aspectos predominantes da existência amazônica.

Não me abalancei a emendar.

Acho-te admirável naquelas rebeldias de expressão, que a princípio me alarmaram.

Até breve.

Abraço-te,

Euclides

Rio, 14 de maio de 1907

Escobar

Desejo-te felicidades. Recebi a tua carta e vou providenciar sobre o que desejas. Mas infelizmente não conheço — nem mesmo de vista — aqueles homens. De qualquer modo, dir-te-ei depois o que ocorrer.

“Brasileiros” não é livro; é um artigo do Jornal.

Manda-me notícias tuas, Homem! Aqui, às voltas com exaustivo trabalho não tenho tempo para escrever aos amigos. Mas não lhes dispenso as novas.

Lembranças a todos os teus. Saudades do

Euclides

P. S. — Espero-te em junho — desejando ter o prazer de hospedar-te.

Rio, 27 de maio de 1907

Firmo

escrevo-te apenas para que não estranhes o silêncio.

Tenho passado dias dolorosos.

O meu pai foi vitimado por uma congestão cerebral — achando-se ainda em estado muito melindroso.

Calcule esta situação.

Escreve-me sempre.

Os maus dias passam. Poderei então conversar longamente contigo.

O teu, sempre cordialmente

Euclides
Muitas recomendações à Exma. sra. e a todos
R. Humaitá, 61

Sempre com a mais alta demonstração, subscrevo-me

De V. Exa. comp. crdo. ato. abrdo.

Euclides da Cunha

Rio, 4 de junho de 1907

Otaviano

Respondo a sua carta de ontem. Estimo muito saber que o meu pai continua melhorando estando quase restabelecido. Ao mesmo tempo insistes para que eu vá, com a família, a fim de fazer-lhe companhia durante a convalescença — o que para mim seria, por todos os motivos, muito agradável. Mas estou nas piores condições para agir. Vou falar-te com a mais completa sinceridade e pedir-te que leias ao meu pai esta carta. A minha situação é esta:

A Saninha — em começo de gravidez — tem passado muito mal depois de um ameaço de aborto. Passa os dias deitada em virtude de determinação dos médicos e não pode sair nem mesmo para visitar a minha sogra. A sua viagem agora seria desastrosa. Além do nosso médico, dr. Lassance, examinou-a o dr. Oliveira Martins, prescrevendo-lhe ambos as máximas cautelas. Como poderei partir? Resta-me o recurso de ir só. Mas neste caso, além dos inconvenientes de afastar-me da família em tais condições — surge um outro. É o caso que o ministro encarregou-me de um trabalho urgente — sobre limites — que não posso abandonar, agora, sem causar grande transtorno. Todos os livros sobre limites do Peru e mapas correspondentes estão aqui em casa — e atravesso os dias a decifrá-los.

Digo-te isso reservadamente e obrigado pelas circunstâncias. Se estivesses bem ao par de minha situação, reconhecerias que a minha partida, sem um motivo imperiosíssimo e urgente, corresponderia a uma verdadeira temeridade. Eu preciso corresponder à confiança de quem se encarrega de coisas tão sérias e inadiáveis. Ainda não tenho posição definida. Preciso conquistá-la — o que espero acontecerá na próxima reforma da Secretaria do Exterior. Mas para isto preciso não me descuidar um só momento e sobretudo não me afastar. Não quero entrar em pormenores — porém devo prevenir-te que, reduzidos os meus vencimentos, desde outubro do ano passado, a 94$000 por mês — há muito tempo que estou diminuindo o exíguo capital resultante dos trabalhos do Purus. Por aí verás que não estou tão folgado como talvez imagine. De qualquer modo tenho uma preocupação quase doentia pelo futuro, que ainda não firmei, apesar de tantos esforços.

Lendo a colheita da Trindade, pequena, e tendo o meu pai, lá, o Ferreira, que é homem de confiança — porque não vem ele até cá passar algum tempo conosco? Acho esta solução muito razoável — harmonizando-se todos os interesses. Diga-me o que resolver a respeito.

Outro ponto da tua carta: dizes que o meu pai precisa de tratar de negócios e que, absolutamente, não deves tratar de negócios que me competem. Julgo o contrário. O meu pai tem em V., e muito justificadamente, a maior confiança. Não quero lisonjear-te, o que não está em meus hábitos: mas bem sabes que há muito tempo a tua retidão e superioridade de sentir são os elementos mais fortes da estima que te consagro. Tens, naturalmente, da minha parte, plenos poderes, para conversar a tal respeito com o meu pai.

Desejo, sobretudo, que consideres bem os motivos anteriores, rapidamente expostos; e que me auxilies, nesta situação insolúvel, como se foras um irmão.

Responda-me logo.

Lembranças a todos, e disponha do

Euclides da Cunha

P. S. — Os artigos escritos para o Jornal tinham a vantagem de corrigir-me as finanças. Mas vejo que tão cedo não poderei continuá-los tão assoberbado vivo de trabalhos. Peço-te que acredites na mais absoluta sinceridade do que disse. Não exagerei em coisa alguma uma situação realmente excepcionalíssima e mui outra do que talvez imaginavas.

[Rio, 12 jun. 1907]

Max Fleiuss

Felicidades. Peço-te (e é um grande favor) que me mandes hoje sem falta a prometida coleção da Revista. Estou às voltas com um trabalho urgentíssimo — e preciso consultar vários números dela.

Recado do amo. admor.

Euclides da Cunha
R. Humaitá, 61

Rio, 26 de junho de 1907

Ilmo. sr. Joaquim Antunes Leitão

Saúdo-o, desejando-lhe felicidades.

Recebi a sua prezada carta de 1º do corrente e fico ciente do que me disse. Juntamente com esta aí chegarão as provas, revistas pelo dr. Araripe, do artigo sobre os Contrastes.

Mande-me dizer quando estará a 2ª edição — porque preciso responder sobre isto a algumas pessoas.

Recomende-me muito ao dr. Pereira Sampaio e creia na maior consideração do ato. crdo. obrdo.

Euclides da Cunha
R. Humaitá, 61

Rio, 4 de julho de 1907

Escobar

Recebi a tua carta, e no mesmo dia renovarei a assinatura do Jornal.

Já recebeste?

Sempre às voltas com os meus mapas atrapalhados ainda hoje não tenho tempo para conversar contigo.

Quando vens até cá?

Responda ao velho amo.

Euclides
Lembranças nossas à d. Francisca e parabéns pelo novo rebento.

Rio, 4 de agosto de 1907

Ilmo. sr. J. Antunes Leitão

Fico ciente do que me mandou dizer na sua prezada carta de 15 de julho agora recebida.

Aguardo os exemplares da 2ª edição.

Se não lhe causar nenhum transtorno peço-lhe que não os mande encadernar como os da 1ª, em percalina.

É muito preferível, a sólida e severa encadernação portuguesa, de couro, embora em número menor de exemplares.

De qualquer modo este desejo cederá ante o que ditar a sua maior experiência. Breve enviarei a José Pereira Sampaio um livro (Peru versus Bolívia) que improvisei num mês — e nessa ocasião saldarei com o meu bom padrinho, em Portugal, a minha velha dívida.

Disponha sempre do amo. crdo. abrgmo.

Euclides da Cunha
R. Humaitá, 61

Rio, 15 de agosto de 1907

Domício da Gama

Somente hoje posso responder à tua prezadíssima carta, cheia do misterioso encanto que as distâncias dão às palavras carinhosas dos amigos. Andei e ando muito doente de mapite aguda, porque certo há um micróbio sinistro emparceirado às traças vingadoras das velhas cartas geográficas feitas há trezentos anos para maior tormento dos que hoje as deletreiam. Quer isto dizer que muito pouco te poderei contar do que vai por aqui. Ando nos séculos XVII e XVIII. Poderia dar-te notícias de d. Gaspar de Munine Leon Garabito Tello y Espinosa, ou dos marqueses de Grimaldi e Floriblanca; mas não sei por onde anda Pires Ferreira, ou o que é feito de Glicério. É um encanto este exílio no tempo. O próprio barão, com a sua estranha e majestosa gentileza, recorda-me uma idade de ouro, muito antiga, ou acabada. Continuo a aproximar-me dele sempre tolhido, e contrafeito pelo mesmo culto respeitoso. Conversamos; discutimos; ele franqueia-me a máxima intimidade — e não há meio de poder eu considerá-lo sem as proporções anormais de homem superior à sua época. Felizmente ele não saberá nunca este juízo, que não é somente meu — senão que se vai generalizando extraordinariamente. De fato, é o caso virgem de um grande homem justamente apreciado pelos contemporâneos. A sua influência moral, hoje, irradia triunfalmente pelo Brasil inteiro. Os efeitos da conferência de Haia — onde Rui Barbosa teve o bom senso de reproduzir-lhe o pensar — consagraram-lhe definitivamente o prestígio. E este fato reconcilia-me com a nossa gente, demonstrando sobretudo a persistência de uma veneração antiga e já agora de todo sobranceira à volubilidade de uma opinião pública tão instável, como a nossa.

Não sei se já aí chegaram notícias da Reforma Orthográphica… (Aí deixo, nestes maiúsculos e nestes h h, o meu espanto e a minha intransigência etimológica!). Realmente, depois de tantos anos de alarmante silêncio, a Academia fez uma coisa assombrosa: trabalhou! Trabalhou deveras durante umas três dúzias de quintas-feiras agitadas — e ao cabo expeliu a sua obra estranhamente mutilada, e penso que abortícia. Há ali coisas inviáveis: a exclusão sistemática do y, tão expressivo na sua forma de âncora a ligar-nos com a civilização antiga e a eliminação completa do k, do hierático k (kapa como dizemos cabalisticamente na Álgebra)…

Como poderei eu, rude engenheiro, entender o quilômetro sem o k, o empertigado k, com as suas duas pernas de infatigável caminhante, a dominar distâncias? Quilômetro, recorda-me kilômetro singularmente esmagado ou reduzido; alguma coisa como um relíssimo decímetro, ou grosseira polegada. Mas decretou a enormidade; e terei, doravante, de submeter-me aos ditames dos mestres.

Mas a discussão foi vantajosa. A importância da Academia cresceu. As suas resoluções estenderam-se ao país inteiro — da rua do Ouvidor à Amazônia, da porta do Garnier ao último seringal do Acre.

A próxima eleição, a quem concorrem Jaceguai, João do Rio e Virgílio Várzea, anuncia-se renhida… e o achatado palacete do cais da Lapa fez-se definitivamente a kaaba (caba, deveria escrever-se pela nova ortografia!!) de todos os neophitos, ou neófitos, literários.

O Rio continua melhorando, aformoseando-se. A concorrência de estrangeiros, extraordinária. Os bonde e automóveis apinham-se de rubros saxões espantadíssimos e deslumbrados. Ressoam, nestes ares, ohs! em todas as línguas. Até em castelhano… Há dias vinham no meu inaturável bonde da Gávea nada menos de seis argentinos (seis argentinos, es una legión!), e quando voltamos à rua Voluntários, penetrando na Avenida Beira-Mar, o mais trêfego deles, precisamente o que me vinha a envenenar a bílis patriótica com uns instantes mira! mira! todas as vezes que deparava uma negra de trunfa escandalosa, — precisamente este gringo irrequieto não se pode conter: “Pero es hermosa, caramba!!” — rugiu e abalou do bonde, acompanhado dos companheiros eletrizados. Foi um encanto. Quero hoje um bem extraordinário ao anônimo gringo, que nem sei mais por onde anda, mas que é, com certeza, um artista inteligente e entusiasta.

Assim nos rodeiam, cada vez mais velhas, as nossas opulências naturais. Pena é o que na ordem moral não se notem idênticos primores. Mas não enveredarei por aí. Seria imperdoável o atirar-se tão longe os respingos amargos do meu pessimismo e desta melancolia irremediável. Além disto, há na tua carta profundos traços de tristeza, que não devo agravar. Ali de desenha nas entrelinhas a saudade da terra; e fora impiedade apontar o que esta tem de ruim.

Com esta carta mando um volume dos Sertões para a Biblioteca de Lima; e ulteriormente irão os livros de outros autores. Se não te causar muito trabalho, peço-te que me mandes o que aí houver acerca das modernas indagações históricas e geográficas do Peru; folhetos, ou livros.

Ando a pensar num livro, essencialmente sul-americano, e preciso estudar muito; e estou estudando muito. Não preciso dizer-te que o teu nome de quando em vez ressalta das nossas palestras: o Machado, o Veríssimo, o Gastão e muitos outros, não te esquecem nunca, e harmonizam-se todos na mesma estima e nas mesmas saudades.

Aguardo mais amplas impressões sobre essa encantadora Lima de los Reyes, que imagino deslumbrante sob um céu eternamente límpido.

Até breve. Saudades, saudades e saudades do teu

Euclides da Cunha

P. S. — A breve escala de 4 horas, que aqui fez Guilermo Ferrero, na sua passagem para Buenos Aires, foi magnífica. O barão recebeu-o gentilmente. No Itamarati, antes e depois do jantar, que lhe foi oferecido, o extraordinário evocador da velha Roma lendária foi verdadeiramente cativante. É impressionadora a sua modéstia. O gênio tem ares tímidos e perturbados de mestre-escola da roça. E a sua Senhora é a mulher mais feia e mais encantadora que ainda viram estes meus olhos selvagens.

Chegaram aí um artigos, “Peru versus Bolívia”, que publiquei no Jornal do Comércio? É uma das minhas quixotadas. Constituiu-me, por satisfazer à índole romântica, um cavaleiro andante da Bolívia, contra o Peru. Por quê? Talvez porque a Bolívia… é mulher. De qualquer modo, manda-me dizer a tua impressão sobre o lance.

Rio, 27 de agosto de 1907

Rangel

Desejo-te felicidades.

Aí vai o prefácio. O teu livro merecia um outro, mais brilhante. Mas irá bem acompanhado pela palavra rudemente sincera de um amigo.

Agora um grande favor: quero que revejas muito cuidadosamente o que escrevi. A letra, exagerei-a de propósito para evitar esses terríveis erros tipográficos que tanto nos magoam. Confio na tua revisão carinhosa.

Não sei se alteraste o trecho do Inferno Verde que extratei. Neste caso, modifique-se o extrato para que saia como estiver no livro.

Adeus. Manda-me dizer, se puderes, a tua impressão acerca daquelas linhas precipitadas.

Recomendações a tua boa mãe. Um abraço do

Euclides
R. Humaitá, 61

Rio, 10 de setembro de 1907

Rangel

Já leste com certeza o prefácio que alinhei nso intervalos das minhas horas fatigadas.

Renovo anterior pedido: quero que faças, pessoalmente, a revisão, duas, três vezes — respeitando a minha pontuação luxuriosa (até com a faculdade de intercalar mais algumas vírgulas aceitáveis).

Manda-me notícias tuas.

Aqui me chegam apenas uns cartões-postais, rápidos, instantâneos, a refletirem impressões fugitivas.

Un bon mouvement! Manda-me notícias mais amplas desse Paris mirabolante e fantástico — que eu nunca verei… nem tenho desejos de ver.

Saudades.

Do Euclides
R. Humaitá, 61

Rio, 15 de novembro de 1907

João Luís

Somente hoje posso responder a tua carta. Andei em Tabatinga, através de não sei quantos mapas velhos e errados, que tive de recomeçar a corrigir. Somente hoje, neste monótono feriado de República, posso dizer-te o que pensei ao ler as tuas letras amigas. Isto: partiste num inexplicável desânimo. Revelou-mo um triste ponto de interrogação posto depois da animadora palavra “convalescer”. Mas eu estou inteiramente convencido da eficácia incomparável do belo clima físico e moral de Minas, que retemperará o lutador combalido, restituindo-mo-lo, breve, com todo o vigor da sua magnífica envergadura. Aqui, há grande corrupção no ar e nos homens; não há pulmões nem almas que não sofram. O afastamento temporário intermitente impõe-se como um afastamento de higiene e de moral. Voltarás, breve, restabelecido. Pudesse eu fazer o mesmo…! Aqui estou com o álbum da Maria, para o qual já consegui um pensamento condigno, num grande esforço de rude construtor de pontes obrigado a fazer um relicário… mas temo confiá-lo ao correio.

Espero entregá-lo pessoalmente. Em casa — continuamos ainda a aguardar o desconhecido visitante que há quase nove meses avança nas sombras do mistério. Esperamo-lo todos os dias! Enviamos muitas saudades e lembranças a d. Fernandina e filhas. E eu lamentando o acabamento desta página abraço-te com todo o carinho da nossa velha amizade.

Rua Humaitá, 61
Euclides

Rio, 16 de novembro de 1907

Domício da Gama

A tua carta de 8 de outubro, recebi-a anteontem; e, à parte o encanto natural, teve um contraste curioso. As letras onde se expõe uma tão ardente afinidade com Você e os belos espíritos que aí teve a ventura de encontrar, li-as através das apreensões, ainda não desaparecidas, relativas às desordens de Tabatinga. Ainda hoje os telegramas discordantes, de Manaus, nos deixam em expectativa ansiosa: teremos uma guerra com o Peru? Seria o caso de credo quia absurdum, ajustado às coisas internacionais, e, também uma das maiores anomalias políticas dos últimos tempos. De outro lado não sei quantas considerações maciças, e monotonamente sensatas, que me acomodem, e foi de infinito mau gosto transmitir, — uma, uma só, escandalosamente pinturesca, seria o tema da ironia do historiador futuro: os dois países tão cheios de terras, tão vazios de homens, tão afastados de ermos e despovoados, fariam largo tempo o papel terrivelmente burlesco de dois bravíssimos duelistas, aparelhados de magníficas epées de combat, e a esgrimirem-se magistralmente… um de cima do Pão de Açúcar; outro, no alto do Corcovado! — E naquelas solidões encharcadas, que eu conheço tanto… Lembra-te, com certeza, ainda o nosso velho jogo infantil da “cabra-cega”… Pois uma tal guerra, que seria uma guerra brutalmente offenbachiana, — guerra a que eu procuraria assistir como um derivativo à minha tristeza congenial, de bugre — semelhante guerra seria uma enorme “cabra-cega” internacional, a revolutear, desabadamente, no indefinido de um deserto. Ao cabo, os antagonistas — suados, esbofados, arquejantes, tontos e exaustos, — voltariam aos lares, e ela acabaria de um modo paradoxal: sem ter começado nunca!

Aqui me voltam, outra vez, ao bico da pena, impertinentes, as tais considerações maciças. Repilo-as. Atiro-as, violentamente, de banda, embaralhadas ou dispersas:… interesses econômicosdespesas incalculáveismobilizações penosas ou impassíveisconflagração sul-americanaparalisia do progressoHaia!… — Para trás! velhas agoureiras! como rugiam cavernosamente os galãs de há cinquenta anos. E, com efeito, afasto-as — pensando que o caso não é de apelar-se para Bluntschli, nem para o nosso velho Lafayette; mas para Steinbroken. O caso, Domício, não é grave.. é excessivamente grave!

Sério é o que me dizes da forte vivacidade intelectual dos peruanos. Não me surpreendi. No Peru nasceu aquele fantástico Lunarejo, talvez o maior gênio das Américas, que lia Homero, no original, aos 15 anos, como se fosse um exemplo tangível da metempsicose. Aí mesmo em Lima, onde ainda em 1780 se queimavam publicamente os livros de Voltaire, brilhou d. Paulo Viscardo y Guzmán, que foi o professor de liberdade do novo mundo, e apareceu vinte anos antes de José Bonifácio e de Bolívar. E o bucólico d. Juan dal Carpio?… E o extraordinário Nelgar, com a tristeza de seus Yaravis e a energia hugoana de suas canções tiranicidas? E o espírito universal de Paz Soldán?… E Hipólito Unanne?…

Riva Aguero, que me desenhaste tão cativantemente, é o último termo de uma série de imortais; e concretiza os únicos adversários que devemos temer. Os bate-bocas e as refregas dos caucheiros e seringueiros no Alto Purus e no Alto Juruá, desaparecerão amanhã… Bastar-nos-á “a guerra de cem anos” pelo primeiro intelectual, que dominará o futuro. Felizmente, antagonistas daquele porte respeitam-se, temem-se, e amam-se. Mando, através dos teus braços amigos “ao jovem historiador que tem talento por todos os peruanos juntos”.

A vida entre nós, como já to disse noutra carta, mudou. Há um delírio de automóveis, de carros, de corsos, de banquetes, de recepções, de conferências, que me perturba — ou que me atrapalha, no meu ursismo incurável. Dá vontade da gente representar a ridícula comédia da virtude, de Catão, saindo por estas ruas de sapatos rotos, camisa em fiapos e cabelos despenteados. Que saudades da antiga simplicidade brasileira… (Mas isto é um desabafo réles, de sujeito que nunca resolveu o problema complicado de um laço de gravata!…) Adiante.

As conferências de Ferrero desiludiram-me. Sou um maravilhado diante de tudo (disse-o Veríssimo ultimamente) e a minha admiração não raro ultrapassa a realidade. Ferrero deixou-me a impressão de ser o Fregoli da história. Desapontou-me. E na noite em que, com uma serenidade adorável, declarou haver descoberto uma lei histórica (uma lei histórica! e não se apagaram as luzes do Palácio Monroe! o auditório não desmaiou!! o governo não decretou o estado de sítio!!) entre a desconfiar que ele não conhecia a significação científica desta perigosa palavra — lei. Quem fará, um dia, a história da glorificação das mediocridades?…

Dentro de 5 dias, no dia 21, o nosso Rio Branco será eleito presidente do Instituto Histórico. Certo quem fez os melhores capítulos da nossa história contemporânea, presidirá melhor do que qualquer um outro a mais nacional das nossas instituições.

Ontem, no Garnier, mostrei a sua carta a Machado de Assis. Lemo-la juntos. Ao lado, os mesmíssimos sujeitos que ali viste há um ano, sentado nas mesmas cadeiras, diziam as mesmas coisas, rindo as mesmas risadas… Nem os pressentimos; estávamos em Lima — e pelos olhos meditativos do mestre vi passar um belo lampejo de saudade, tão verdadeira, que muito provavelmente, com esta minha carta, chegar-te-á uma outra dele.

Sou obrigado a terminar, sem dizer um décimo do que tinha a contar-te. Esta carta, faço-a à carreira, com o intuito essencial de impedir um hiato demasiado extenso na nossa correspondência. Tenho de compor uma dúzia de mapas, a fim de organizar uma carta, mais ou menos certa, das cercanias de Tabatinga. Logo que se ultime a tarefa, e não me surja outra por igual urgente, — reatarei o meu noticiário.

Peço-te os boletins deste ano, da Sociedade Geográfica de Lima.

Breve aí chegarão mais livros: do Machado, do Veríssimo e de alguns poetas. O Gastão, manda-te um abraço. Não poderei citar todos os que tem mandam lembranças. Afirmo-te que bem poucos deixam de recordar-se, com saudades, do excelente companheiro ausente. A simpatia é unânime, e não foste esta minha triste profissão de cartógrafo, absorvendo-me todos os minutos, — que eu to demonstraria com exemplos eloquentes. Ficará para outra vez. Manda-te um abraço, um grande abraço (um abraço de nove graus de latitude!) o teu

Euclides da Cunha

P. S. — Espero o livro de Riva Aguero.

Rio, 28 de novembro de 1907

Escobar

Somente hoje retirei a tua carta registrada, com valor, ficando desapontado por ver que me mandavas uns dezessete mil réis, quase não me lembrava mais. Que diabo de preocupação foi essa? Então andamos como dois massudos burgueses, a regularem contas? Felizmente, o desagradável incidente foi compensado, porque na mesma carta me dás notícias tuas, e diz que estás bom, assim como a d. Francisca e todos.

Também por aqui me anda a praga dos filhos. Nasceu mais um, no dia 16 de novembro. Chamei-o Luís, percorrendo o calendário exausto.

Estou ficando patriarca. Apesar disto, e das grandes barbas brancas ideais que me andam pelo rosto, lá vou pelo noturno, de domingo, 8 de dezembro, a S. Paulo, onde farei, no dia seguinte uma conferência sobre Castro Alves, para auxiliar a construção da herma de poeta. Andei em talas para arranjar coisa que possa agradar a estudantes. Mas conto com o insucesso. Felizmente, de qualquer modo, lucrará o poeta. Obrigado, pelo que dizes do “Peru versus Bolívia”.

Ah! Realmente tem razão o João do Rio (vide Gazeta de domingo passado) ao proclamar-me o único funcionário público romântico, que ainda houve nesta terra.

Adeus. Por que não nos encontraremos em S. Paulo, no salão…, à noite?

Lembranças a todos. Do teu

Euclides da Cunha

[Rio, 1907]

Nestor

Saúdo-te e a todos os teus, desejando-lhes muitas felicidades.

Peço-te que leias a inclusa carta do meu colega João Duarte — e providencies como puderes acerca do que ele pede e parece-me justo. Aguardo a tua resposta para transmiti-la ao Duarte.

Ando muito doente: influenza, impaludismo etc. Por isto não te tenho procurado. Você é mais moço; e eu sou o chefe da classe da nova camada dos Pimentas.

Baseado nesta regalia, fico certo de que não te aborrecerás com o primo e amo.

Euclides
R. Humaitá, 61

Rio, 9 de dezembro de 1907

Nestor

Embora você deva estar zangado comigo, porque não agradeci sequer a remessa dos retratos, tão sem tempo vivo na minha vida atarefada — tenho o maior prazer em te apresentar o meu amigo e colega dr. Duarte Júnior, que deseja falar ao ministro. Sei que o receberás como se ele fosse o teu primo e amo.

Euclides da Cunha

[Rio, dezembro de 1907]

Meu ilustre amo. dr. José Veríssimo, — desejo-lhe felicidades. — Infelizmente não meu foi possível ir procurar os livros que me prometeu. Esperei-o no Garnier, longo tempo.

Sigo amanhã cedo para S. Paulo, devendo estar de volta nestes 20 dias.

Faço os melhores votos pelo restabelecimento de sua filhinha, e pedindo-lhe que me recomende a todos os seus, sou com a maior consideração seu amo. e admor.

Euclides da Cunha

Rio, 10 de dezembro de 1907

Alberto Rangel

Aqui estou eu a invejar-te a existência deliciosa — tão diferente da minha triste agitação de servo amarrado pelas linhas geográficas à gleba dos papéis de uma secretaria. Que os deuses propícios te prolonguem os dias da felicidade…

Recebo sempre os teus cartões-postais, gentilíssimos e breves, e tão sinceramente admirativos ante os encantos do velho mundo. Mas penso, com tristeza, que eles te estejam apagando na alma a lembrança da nossa rude e formosíssima terra. Precisas reagir contra a feitiçaria da Velha toda ataviada de primores — e que, afinal, não vale a nossa Pátria tão cheia de robusta e esplêndida virgindade.

E tenho a esperança de que em breve tem enjoem essas velharias enganadoras… e não mais te deslumbrará esse relíssimo Mônaco, que por si só empesta uma Civilização inteira. Que estranheza, meu querido amigo, não estarás sentindo, ao escutar a magnífica sinceridade de nossa robusta alma brasileira, ante o papaguear das trogloditas cultas que aí andam! Mas escrevo-te como a um irmão mais moço.

Estive há dias, pela primeira vez, em casa do Cavalcanti — e lá vi os trechos de tua carta em que te referes a vários lances do meu prefácio. Tive imenso prazer verificando que ele te agradou. Quando surgirá, afinal, o Inferno verde? Espero-o todos os dias. Tenho já três críticos a postos, de penas perfiladas, prontos à primeira voz. — No teu último cartão referes-te à palavra “comunhão” a propósito da Maior, supondo que deve ser “criatura”. É comunhão mesmo. Generalizei a tua ideia.

A mulher torturada — é a Terra torturada. Apenas, esta palavra “comunhão” é medonha. Peço-te que substituas: comunidade, ou sociedade; o que faz melhor conforme a música do período que não tenho presente porque não tirei cópia.

Adeus. Muitas recomendações a todos. Aqui fica, cheio de saudades; esperando o livro magnífico, o teu velho colega e admor.

Euclides da Cunha

P. S. — Sei que acrescentaste mais um capítulo: “Pirites”. Deves num posfácio prometer o reverso do quadro: o livro antítese do Inferno, em que se considere, otimistamente, a nossa prodigiosa Amazônia.

[Rio, 1907]

[A Alberto Rangel]

Belíssimo, o Inferno Verde. Não te esqueças de mandá-lo a todos os jornais e aos nossos principais luminares da crítica. Julgo o sucesso inevitável.

Recebo sempre os teus cartões-postais.

Abraço-te

Euclides