José de Alencar
Capítulo XVIII
Desengano
Imitando o canto da sariema, o que era um sinal dado a seu cavalo para que o seguisse, o sertanejo aproveitando a frouxa luz da tarde foi no rasto do Aleixo, que aliás não tomara a menor cautela para disfarçá-lo.
Ao cabo de um estirão de caminho parou e observando pelo céu a direção do rasto, disse consigo:
— Não há que ver, está no Bargado. Eu o sabia, “Corisco”!
O inteligente animal acudiu ao chamado do senhor, que o montou mesmo em pelo, e instantes depois corria pelo cerrado, como se trilhasse uma vargem aberta e descampada.
É um dos traços admiráveis da vida do sertanejo, essa corrida veloz através das brenhas; e ainda mais quando é o vaqueiro a campear uma rês bravia. Nada o retém; onde passou o mocambeiro lá vai-lhe no encalço o cavalo e com ele o homem que parece incorporado ao animal, como um centauro.
ALENCAR, José de. O Sertanejo. In: Obra completa. 2. ed. Rio de Janeiro: Aguilar, 1960-1965. v. 3 de 4. p. 935. il. In: EUCLIDESITE. Artigos. São Paulo, 2019. Disponível em: https://euclidesite.com.br/artigos. Acesso em: [data].