Aconteceu em agosto: casos e causos das Semanas Euclidianas
O rapaz que chorava, também ficou conhecido pelo nome de sua cidade: Pindorama. Ele estava hospedado na residência de uma tia distante que gentilmente cedeu uma suíte em sua casa para o maratonista da família.
Vale lembrar que São José do Rio Pardo sempre foi uma cidade muito hospitaleira e hospedar um maratonista era motivo de muito orgulho para os riopardenses que sempre tiveram um grande apreço pelo culto euclidiano, por isso, o garoto não podia chegar em casa naquela situação. Como explicar à tia que ele, até poucas horas, era um orgulho familiar, acabara de passar para a história do roubo do porco?
Não pensou muito, tirou a roupa ali mesmo na praça e a entregou para uma das garotas que levou para o colégio das irmãs e providenciou sua lavagem.
Ficando só de cueca, Pindorama seguiu para casa da velha tia e, para sua sorte, todos dormiam quando ele chegou, para não acordar ninguém, ficou em pé dentro do bidê do banheiro de seu quarto e ali mesmo tomou banho, no bidê!
O terror se instalou entre nós maratonistas, que já nos víamos punidos, sem direito de participar da maratona, devolvidos às cidades de origem e o pior: impedidos de voltar a São José no próximo ano. Esse era o pior castigo!
A ordem, de quem partiu, não se sabe, era dispersar, ou seja, voltar para os alojamentos e não tocar no assunto, esquecer o roubo, o porco, o Zé, o boi e tudo o que lembrasse aquela noite.
No dia seguinte, todos apreensivos fomos para as aulas na Casa Euclidiana, a casa azul e, no intervalo, fomos surpreendidos por um carro com uma pessoa com estilo muito semelhante ao do Zé do Boi que rondava a casa azul, como que a procurar alguma coisa ou alguém.
O Pindorama só chorava reconhecendo, não me perguntem como, aquele como o capataz do sítio onde ocorreu a tentativa de roubo e dizia:
– Agora vai tudo preso é o fim dessa prosopopeia…
O que ninguém sabia é que tudo não passava de armação para provar que o Zé do Boi tinha era muito papo e nenhuma coragem.
Seu jeitão despretensioso foi causando muito mal estar, principalmente entre os rapazes, pois tudo ele sabia, fazia, tinha coragem e só Borborema existia, era o melhor lugar do mundo, até mesmo que São José do Rio Pardo, foi aí que o caldo entornou, “fez-se banquete com pés de galinha”.
Um grupo de maratonistas veteranos, junto com alguns rapazes de São José do Rio Pardo, decidiu dar-lhe uma lição.
A chácara onde seria realizado o churrasco era o mesmo sítio onde ocorreria o roubo do porco; o rapaz, filho do proprietário, combinou tudo com o caseiro que, ao ouvir o barulho da chegada da turma, deveria prestar atenção ao sinal de um isqueiro que seria riscado na escuridão e a partir daí deveria dar um tiro para o alto a fim de espantar os pretensos ladinos e desmascarar o Zé do Boi, só que a armação saiu muito melhor do que se pretendia.
Ninguém foi atingido por nenhum tiro, o vermelho da camisa de um dos maratonistas era ketchup, para ajudar na encenação. Ele poderia não ser bom aluno, mas era excelente ator.
Houve um ex-maratonista, filho de um antigo professor, que feriu a cabeça ao fugir e passar por baixo de uma cerca e batendo num mourão. Esse sim, foi parar no hospital e, até bem pouco tempo, seu pai não sabia o que realmente havia acontecido.
Um antigo maratonista havia chegado pela manhã na cidade, era recém-casado; trouxe a esposa para conhecer a Semana Euclidiana e todas suas atividades culturais e, sem querer, eles se viram envolvidos em toda a confusão, levando o jovem ao hospital, acalmando o pai, enfim vivendo o verdadeiro espírito de aventura das antigas Semanas Euclidianas. Não é preciso dizer que nunca mais ele e a esposa voltaram a São José.
A verdadeira história só foi conhecida meses depois quando já estávamos todos em nossas cidades e, foi sendo revelada por cartas, pois era assim que nos comunicávamos antigamente, por carta. Talvez por isso tenha demorado tanto tempo para sabermos o que realmente foi o caso do roubo do porco.
Em que ano foi? Não sei, só sei que aconteceu em agosto!