Aconteceu em agosto: casos e causos das Semanas Euclidianas
Diz o ditado popular que, “o lobo perde o pelo, mas não perde o vício” e foi o que aconteceu com a Betty, que, mesmo desmascarada, continuou décadas depois a tentar enganar os inocentes utilizando-se de outros personagens. Embora ela jure que um episódio não tenha nada a ver com outro, mas aconteceu mais ou menos assim:
Um grande amigo dedicado ao trabalho de divulgação da obra euclidiana, excelente professor, carismático, um showman, sempre que chegava à cidade já arrumava uma verdadeira legião de fãs de todas as idades, sexos, religiões, times de futebol, verdadeira unanimidade, ou quase, pois na pseudo nobreza tem sempre alguém que se incomoda com a competência e o sucesso alheio, mas isso não vem ao caso e nem fará parte dessa crônica, ou ocupará outra crônica qualquer.
O que importa é que ele sempre foi muito bem aclamado pela crítica… Mestre, escritor, autor de teatro, enfim um homem do mundo. Tão conhecido que, por onde passava em São José do Rio Pardo, as pessoas o chamavam pelo nome e ele, que nunca se deu conta da extensão de seu sucesso, foi sempre muito simples e simpático para com todos.
Um dia, em uma Semana Euclidiana estavam almoçando, como sempre no agradável Restaurante Stuffa, quando o garçom, que trabalhava lá há anos, sempre muito gentil e discreto, chamou Betty de lado e com muito jeitinho perguntou:
– Tenho observado há tempos esse senhor e vejo que ele é muito conhecido, admirado e respeitado por todos. Quem é ele? É algum ator? Escritor?
Pronto, o garçom tinha acabado de oferecer milho a bode e a maldade de Betty Davis saltou-lhe dos olhos.
– Ah! Sim! Então você o reconheceu? Vejo que é discreto e peço para manter-se assim, pois ele gosta daqui exatamente porque pode andar tranquilamente pelas ruas.
Assim se passaram os dias, o pobre homem alimentando-se do prazer em servir seu ídolo. Sua mesa sempre muito bem servida, nunca havia espera. Ao que todos os que o acompanhavam, admiravam a presteza dos serviços do restaurante e de seu garçom.
Betty, que aprendeu com a nobreza a ser falsa, chegou próximo do garçom e disse-lhe:
– Então você já sabe quem ele é?
– Sim, é o Paulo Coelho, acho que vou pedir-lhe um autógrafo, mas tenho vergonha e não quero incomodá-lo. Disse o garçom cioso de seu dever em atender bem e não incomodar os clientes.
– Pois bem, quando quiser é só chegar e pedir, ele é gente muito fina, não vai se incomodar em dar-lhe um autógrafo. E assim foi Betty cuidar de seus deveres, esquecendo-se do admirador e do admirado.
Ao final daquela Semana Euclidiana ela já não se lembrava da farsa, quando de repente, durante o almoço, surge o garçom tomado de coragem, respirando fundo com um livro de Paulo Coelho nas mãos, avança e pede um autógrafo àquele que passou a ser impostor sem saber.
– Seo Paulo Coelho, por favor, me dê um autógrafo, sou seu fã há anos.
Surpreso e vendo a sinceridade do garçom, o pobre e embaraçado professor desculpou-se.
– Meu amigo, perdão, sinto-me lisonjeado em ser comparado com Paulo Coelho, mas não sou ele não. Receba, não um autógrafo, que não lhe posso dar, mas um sincero e caloroso abraço desse amigo.
Após esse gesto de carinho, o garçom, constrangido, saiu com o livro debaixo do braço em direção ao balcão, quando no caminho encontrou outro antigo garçom da casa que assistia a tudo sem esboçar surpresa e foi tranquilizando:
– Não se preocupe com isso, há alguns anos atrás , quando esse Paulo Coelho era mais jovem, ele me foi apresentado como Antônio Fagundes e eu acreditei até bem pouco tempo, quando passei a trabalhar durante o dia e comecei a assistir novelas.
Eh! Esse é mais um dos casos acontecidos nas memoráveis Semanas Euclidianas.