Aconteceu em agosto: casos e causos das Semanas Euclidianas
Famoso trecho de Os sertões pela beleza de seu texto e também pela dificuldade que apresenta a leitura, foi ministrada durante anos por um saudoso e competente professor, que não media esforços para tentar fazer dessa leitura algo prazeroso, menos cansativo e bem realístico.
Quem já teve a oportunidade de conhecer a Serra do Cambaio, na região de Canudos, sabe que Euclides da Cunha não carregou nas tintas. Local inóspito, de difícil acesso, com um sol causticante e um calor dos infernos. Era assim que o texto também se apresentava e, por mais que o professor se esforçasse, a coisa era difícil, a coisa era feia.
O pior é que esta aula acontecia sempre num dia após alguma das atividades paralelas como: subida ao Cristo, baile no Rio Pardo, serenata na praça, ou simplesmente um batepapo na praça até amanhecer o dia. E lá iam todos com os olhos vermelhos, caindo de sono e… zzzzzzzzzz.
Todo ano era a mesma coisa e, o amigo de Euclides, aquele que acabou sendo conhecido por “Gato Félix” resolveu botar moral nessa travessia.
– Ninguém mais dorme nessa aula. Vocês vieram aqui para estudar e não para ficar na esbórnia até altas horas. E assim cutucava um, chamava a atenção de outro, falava mais alto do que o professor que comandava a íngreme travessia.
Todo maratonista conhece a máxima que diz: “Semana Euclidiana: noites mal dormidas, porém muito bem vividas.” Uau! Esse era o espírito das atividades paralelas, com bronca, ou sem bronca, “Gato Félix” que perdoasse, mas não dava pra não participar.
Para orientar os maratonistas de primeira viagem, o jornal O Berrante produzido por um grupo de ex-maratonistas, assíduos frequentadores da Semana, resolveu lançar um “Manuel de sobrevivência do maratonista” com a finalidade de evitar as garras e os gritos do feroz felino. Dentre várias dicas, havia uma que dizia: “Use óculos escuros para fazer a travessia do Cambaio. O sol do sertão é muito forte…”
Claro que com algumas “explicações”, os novatos ficaram inteirados das orientações e se prepararam para a travessia e antes do início da aula para o embaraço, mas nem tanto do “Gato Félix”, apareceram quase todos, a maioria que já estava sem dormir quase uma semana, de óculos escuros.
“Gato Félix”, como sempre perdendo a oportunidade de ficar calado, mas não perdendo a oportunidade de uivar, foi logo inquirindo alto e em bom tom na aula do outro:
– Isso aqui não é praia e nem piscina, então, por que os óculos escuros?
– É para viver de uma forma real a travessia do Cambaio, porque o sol do sertão é muito forte. Anunciou um novato trazido pelo próprio “Gato Félix” e, que nunca tinha conseguido participar de nenhuma das atividades paralelas, porque o professor felino conferia toda noite sua presença no alojamento.
Esta é mais uma das histórias das Semanas Euclidianas.
“Gato Félix”, você faz falta…