Alto! Parem o desfile!

Aconteceu em agosto: casos e causos das Semanas Euclidianas

Gato Félix. Ilustração: Luiz Carlos Capellano

A Semana Euclidiana começa no dia 9 de agosto com um belíssimo desfile de abertura, onde escolas, instituições e agremiações de diferentes áreas de atuação dedicam muitos meses do ano para prepará-lo e, quem não está envolvido diretamente no desfile ou com sua estrutura se faz presente nas ruas para prestigiá-lo: o povo!

Existe uma certeza imutável, irrepreensível, “imexível”, como diria aquele ministro, é o horário de início: 9 horas!

Aconteça o que acontecer, faça chuva ou faça sol, mesmo com luto oficial decretado, às 9 horas, em forma, marchando, desce a Rua Francisquinho Dias o tradicional Tiro de Guerra, abrindo o desfile. Cioso de seu dever, ele vem à frente sério, compenetrado, batendo os lustrosos coturnos negros com força nos gastos paralelepípedos, seguido pelos representantes da Casa Euclidiana: funcionários, professores do ciclo de estudos, maratonistas, escolas e demais participantes do festivo evento.

O ponto máximo e já ao término, é a passagem diante do palanque onde ficam concentradas as autoridades civis, militares, eclesiásticas, além de políticos da região. Porém, em um determinado ano, não se sabe até hoje o porquê, numa determinada Semana Euclidiana encontrava-se no palanque apenas o responsável pelo evento e o competente  locutor que, ano após ano, abrilhanta aquele momento com sua simpatia e bela capacidade de comunicação.

Todos se atrasaram… menos o Tiro de Guerra que, ao ouvir o sino da igreja matriz de S. José anunciar 9 horas, iniciou o desfile. Veio descendo a Francisquinho Dias como se fosse embarcar para uma missão da ONU no Haiti, cheio de responsabilidade e consciência do dever a cumprir. Todos sabiam que nada os deteria, com autoridades no palanque, ou sem elas, o desfile de abertura iria começar.

Num desses arroubos de autoridade e quiçá de poder, concedido pelo transitório cargo que ocupava, o responsável pelo evento pulou do palanque e subindo a rua Francisquinho Dias em forçada carreira, o mais rápido que suas limitadas forças permitiam, empunhando o microfone e colocando-se diante do Tiro de Guerra gritou:

– Alto, parem o desfile! É uma ordem! Agora quem está no comando sou eu!

Não é preciso dizer que o Tiro de Guerra seguiu impávido, um colosso e nem precisou desviar do irado e efêmero comandante, apenas abriu suas colunas deixando o pobre homem plantado ali, no meio do  pelotão que seguiu em cumprimento ao dever.

E o povo?

“O povo assistiu àquilo bestializado”, como diria o republicano Aristides Lobo.

SILVA, Rachel Aparecida Bueno da. Alto! Parem o desfile! In: Aconteceu em agosto: casos e causos das Semanas Euclidianas. pref. de Fausto Salvadori Filho. São Paulo: Casa do Novo Autor, 2012. pp. 29-30. E-book. Disponível em: https ://euclidesite.com.br/aconteceu-em-agosto. Acesso em: [data]. Reprodução permitida somente para fins educacionais e desde que citada a fonte.