Aconteceu em agosto: casos e causos das Semanas Euclidianas
Existe uma certeza imutável, irrepreensível, “imexível”, como diria aquele ministro, é o horário de início: 9 horas!
Aconteça o que acontecer, faça chuva ou faça sol, mesmo com luto oficial decretado, às 9 horas, em forma, marchando, desce a Rua Francisquinho Dias o tradicional Tiro de Guerra, abrindo o desfile. Cioso de seu dever, ele vem à frente sério, compenetrado, batendo os lustrosos coturnos negros com força nos gastos paralelepípedos, seguido pelos representantes da Casa Euclidiana: funcionários, professores do ciclo de estudos, maratonistas, escolas e demais participantes do festivo evento.
O ponto máximo e já ao término, é a passagem diante do palanque onde ficam concentradas as autoridades civis, militares, eclesiásticas, além de políticos da região. Porém, em um determinado ano, não se sabe até hoje o porquê, numa determinada Semana Euclidiana encontrava-se no palanque apenas o responsável pelo evento e o competente locutor que, ano após ano, abrilhanta aquele momento com sua simpatia e bela capacidade de comunicação.
Todos se atrasaram… menos o Tiro de Guerra que, ao ouvir o sino da igreja matriz de S. José anunciar 9 horas, iniciou o desfile. Veio descendo a Francisquinho Dias como se fosse embarcar para uma missão da ONU no Haiti, cheio de responsabilidade e consciência do dever a cumprir. Todos sabiam que nada os deteria, com autoridades no palanque, ou sem elas, o desfile de abertura iria começar.
Num desses arroubos de autoridade e quiçá de poder, concedido pelo transitório cargo que ocupava, o responsável pelo evento pulou do palanque e subindo a rua Francisquinho Dias em forçada carreira, o mais rápido que suas limitadas forças permitiam, empunhando o microfone e colocando-se diante do Tiro de Guerra gritou:
– Alto, parem o desfile! É uma ordem! Agora quem está no comando sou eu!
Não é preciso dizer que o Tiro de Guerra seguiu impávido, um colosso e nem precisou desviar do irado e efêmero comandante, apenas abriu suas colunas deixando o pobre homem plantado ali, no meio do pelotão que seguiu em cumprimento ao dever.
E o povo?
“O povo assistiu àquilo bestializado”, como diria o republicano Aristides Lobo.