Aconteceu em agosto: casos e causos das Semanas Euclidianas
No ano em que o cinema nacional foi a São José do Rio Pardo, todos começaram a sentir-se um pouco artistas naquele clima, claro que alguns mais que os outros, chegando ao ponto de querer tratamento VIP.
Foi o que aconteceu com uma jovem maratonista que, envolvida até a raiz dos cabelos com as filmagens, quase se esquecendo de seu real propósito naquela semana, incorporou Betty Davis.
Tudo as diferenciava: idade, nacionalidade, idioma, estatura, cabelos e olhos, mas o que as tornava semelhantes: a prepotência, a interpretação, o nome.
Um jovem aventureiro, maratonista desses de ocupar na listagem de colocados da maratona sempre a primeira colocação, debaixo para cima, mas muito perspicaz, percebendo a tendência da moça, resolveu investir na brincadeira e deu corda e mais corda.
A pseudo atriz que desempenharia em breve importante papel, o de figurante em uma pequena cena, começou a queixar-se do tratamento recebido, uma hora era o café , outra hora era o almoço, em outra o jantar. Um horror! Suas queixas foram ganhando forças através do amigo… da onça.
Quase às vésperas de sua grandiosa participação, a jovem, que não saía mais dos sets de filmagem, queixava-se da falta de conforto para dormir, alegava que precisava de uma boa noite de sono para estar com boa aparência para o grande dia.
O amigo da onça em uma madrugada, após muita cantoria e farra na praça, tratou logo de convencer a reclamante de que ela deveria hospedar-se no Hotel Brasil, local onde estavam hospedados todos os componentes do cinema, afinal ela era uma atriz do filme.
Não precisou de muito argumento e a moça, acompanhada do amigo que pretendia assistir a tudo, foi logo se ajeitando em direção ao hotel, chegaria lá, solicitaria um quarto e que mandassem a conta para a equipe de filmagem, ou seria para a Casa Euclidiana?
Bem! O que importa é que aquela que já fora convencida de ser Betty Davis chegou e se apresentou ao porteiro do hotel que tinha sido acordado para abrir-lhe a porta.
– Boa noite! Quero um quarto para dormir, amanhã tenho filmagem logo cedo e preciso descansar.
– Boa noite! Em nome de quem foi feita a reserva? Perguntou o porteiro assonado.
– Em meu nome. O senhor não está me conhecendo? Olhe bem, já deve ter visto alguma atuação minha, meu nome é Betty Davis…
O amigo da onça, a essa altura, já havia chamado os outros para assistirem a interpretação da figura.
– Nossa! Eu não me lembrava de seu nome, mas a senhora é mesmo muito familiar. Onde está sua bagagem? Perguntou meio atrapalhado o trabalhador importunado.
– Bagagem, bagagem! Bem, amanhã resolvo quem vai buscar. Mas a conta vai para a Casa Euclidiana. Respondeu o fenômeno de interpretação.
O que Betty Davis não contava era com a surpreendente chegada de um parceiro de antigas atividades escusas, como a de sair à noite para roubar porco para fazer churrasco e ao vê-lo, foi traída pela alegria e amizade emitindo um enorme e sonoro:
– Ô, FUDEGA!!!!
Ao que imediatamente respondeu o porteiro:
– Fudega? Pois bem! Já sei muito bem de onde a conheço. Você não é a Betty Davis não, é a Bete Cida, que ano após ano participa dessa Semana Euclidiana e só apronta pela cidade.
– Xiii… você foi descoberta, vamos embora! Alertou o amigo perdendo o fôlego de tanto rir. Pelo menos você é conhecida, senão como Betty Davis, pelo menos como Bete Cida.