Em páginas anteriores mostramos que bem pouco tempo nos restou para nos dedicarmos a outros estudos além dos que constituíam a nossa tarefa principal. Assim, quanto à estrutura da terra, à flora que a reveste, à fauna que a povoa, bem pouco podemos avançar com segurança.
Sobre a natureza dos terrenos os materiais que coligimos, fósseis e rochas, retemo-los ao Museu do Pará, entregando-os aos raros competentes no assunto. Mas conforme nos ponderou judiciosamente o Sr. Dr. Emilio Goeldi, digno diretor daquele estabelecimento, “a elaboração científica dos materiais coligidos está às vezes numa desproporção quase incrível com o tempo gasto em reuni-los.” Somente mais tarde poderemos ter, portanto, quaisquer conclusões a este respeito, quedando-nos por enquanto na dedução que firmamos em páginas anteriores, relativa ao dilatado horizonte geológico da formação própria do Pará.
Considerando vários cortes, que anotamos pela observação das barrancas do rio, vemos que comprovam aquela formação, até muito além da confluência do Chandless, a existência das três camadas características da Amazônia – de grés estratificado, argila e grés ferruginoso – cujos estratos numa justaposição variada formam os vários aspectos dos terrenos.
Em S. Miguel e pontos convizinhos este último grés dispondo-se em largos estratos de espessura insignificante, sobre formações argilosas, tem pela sua cor escura e brilhante, lembrando uma fusão superficial, um aspecto francamente eruptivo.
Pensamos que esta rocha mais bem estudada derramará muita luz na fisiografia da Amazônia.
Dela resultam vários trechos perigosíssimos na vazante do Baixo Purus – em Cachoeira e no Pacoval, em Botafogo, onde o estreitíssimo canal passa encostado à pedra; em Caçaduá em Guajarahan, em que se vêem os destroços de seis lanchas; em Taquaquiri, Cantagalo, etc.
De Curanja para cima estas condições estruturais se transmudam, sendo os terrenos formados principalmente de um conglomerado muito consistente e de uma espécie de quartzito duríssimo, talvez ainda não definido pela ciência. De ambos trouxemos espécimes que entregamos aos mais competentes, para que se forme breve uma opinião a este respeito. O mesmo diremos quanto à vasta cópia de seixos rolados, de quartzo, oriundos, certo, de terrenos primitivos, graníticos. A sua ocorrência em tais lugares mostra-se de todo inexplicável.
Assim, sob este aspecto, a nossa contribuição se limita aos espécimes que colhemos, e confiamos à definição ulterior dos especialistas, sendo desvaliosas quaisquer considerações que fizéssemos a este respeito.
As mesmas restrições quanto à flora. Vimo-la sempre a relanços na travessia célere das nossas embarcações. Observações parceladas, sem a continuidade de esforço seguido e com a atenção sempre desviada para o nosso objetivo principal, nenhuns dados mais íntimos nos poderiam fornecer sobre tão amplo departamento das ciências naturais. Restringimo-nos por isto a indicar os gêneros que pela predominância do número, ou pelos seus caracteres incisivos, mais se nos impuseram à contemplação.
Notamos para logo uma circunstância que a uniformidade estrutural da região em grande parte explica: a constância do aspecto geral da floresta, que até às cercanias de Cataí não varia, dilatando-se por todo o desenvolvimento do rio com inalterável monotonia; o mesmo tom verde-escuro das folhagens e os mesmos renques de árvores de troncos quase retilíneos e unidos, distendidos pelo alto das barrancas.
A pequena altura relativa da mata, onde se destacam de momento em momento, á feição de grandes calotas esféricas, as frondes dominantes das samaumeiras, reflete bem a exuberância do solo que favorecendo a multiplicidade das espécies prejudica o desenvolvimento próprio de cada uma delas.
Além disto, as condições naturais do meio de algum modo se contrapõem à grande altura dos tipos vegetais. Realmente, estes dispondo, graças à umidade excessiva, de todos os elementos de vida, não precisam de os procurar nas camadas mais profundas do subsolo. Assim as árvores, de um modo geral, não têm o eixo descendente. As suas raízes irradiam diferenciadas em radículas fasciculadas, quase à flor da terra inconsciente e úmida que ao mesmo passo lhes favorece o crescimento e se opõe a uma exagerada altura capaz de as tornar instáveis. De fato, as que se destacam desta grandeza uniforme a qual desdobra num plano quase de nível as frondes das matas amazônicas – criam dispositivos que lhes explicam o porte excepcional.
Consistem na formação tão característica das sapopembas, mercê das quais se alteiam as copas alterosas da samaúma e do caucho.
Apesar disto, às menores rajadas de uma tormenta é vulgaríssimo o fato da queda de numerosas árvores, desabando largos lances de floresta.
Não precisamos acrescentar que as matas só se desenvolvem nas zonas de terreno denominadas “terras firmes”, e que são as inacessíveis às enchentes comuns, claramente distintas dos igapós, sujeitos à invasão das águas nas enchentes médias; e sobretudo da vegetação característica das praias, verdadeiras restingas desenvolvidas em todas as voltas e somente visíveis nas vazantes.
Considerando-se as continuadas mudanças de leito, que notamos no Purus, vê-se que a função primacial desta última flora, consiste numa lenta e permanente conquista do solo. Assim que a constituem as oiranas (salix humboldtiana), as imbaúbas e as frecheiras, viçando – ora associadas, ora isoladas – em todos os lugares de formação recente, numa lenta evolução que vai preparando o igapó (prenunciado pelo aparecimento ulterior de uma laureácea, a que chamam louro do igapó), do mesmo modo que este, mais tarde, se transforma em floresta.
É tão bem pronunciada esta função da vegetação inferior, das praias do Purus, que, não raro, nós percebíamos, independente de nosso levantamento hidrográfico, um trecho recém-abandonado pelo rio à simples aparição de um largo trecho coberto de imbaúbas.
Esta floresta marginal desenvolve-se quase sem variantes até pouco acima de Curanja, onde, conforme uma exata observação de Chandless, desaparecem as oiranas, substituindo-a uma mimosa altamente artística, a calliandra trinervia, de longos ramos flexíveis, horizontalmente destendidos sobre as águas a ponto de se tocarem os que se defrontam, interrompendo a passagem dos rios estreitos, como observamos no “Cujar”, à montante da confluência do “Cavaljane.”
Nada mais podemos acrescentar, com segurança, além destas conclusões gerais, a que anexamos rápida notícia dos principais gêneros que nos foi dado observar.
Compreende-se que fora de tais considerações bem pouco poderemos dizer sobre as inumeráveis espécies que constituem a flora admirável da região. Apontaremos as que se nos impuseram mais à observação.
Assim, entre as palmeiras: a paxiúba, que desde a foz do Purus até às suas cabeceiras, é a árvore mais empregada nas construções conhecidas daqueles lugares, onde as casas, barracões, ou tambos, desde a cobertura ao soalho e aos esteios são exclusivamente feitas de suas folhas e estipites; a jaci e o uricuri, empregadas na defumação de borracha; o jauari, profusamente disseminado e distinguindo por este fato aquela flora da do Baixo Amazonas, onde escasseia; a jarina e o patauá, também aplicados na cobertura das vivendas; o murú-murú, de estipite e folhas espinhosas; o buriti, aparecendo em geral afastado dos rios às margens dos igarapés; os açaís, de troncos flexíveis e altos. São os mais comuns. Escusamo-nos de dar-lhes os nomes científicos por demais sabidos, assim como as variadas e complexas aplicações que fazem os habitantes, de suas fibras, folhas e frutos.
Sucedem-se-lhes pelo número incalculável em que aparecem em todas as convexidades do rio, sobretudo do trecho que vai da confluência do Iaco à do Curanja, as imbaúbas destinadas, talvez, a vasto destino industrial na fabricação do papel e tecidos, mas reduzidas ali à função de garantir a terra contra a degradação exercida pelas águas.
Destacam-se na “terra firme”, sobranceiras às outras árvores, as conhecidas bombaceas, samaúma e embirussú, de cujo líber se extraem fibras e estopa; mas reduzidas ao emprego local do calafeto das canoas e barcos.
Emparelham-se-lhes no avantajado do porte algumas leguminosas em que se distingue a colossal cumarú, tendo em seu nome científico, dipterix odorata, denunciado o seu maior emprego industrial; e uma lecitídea, a alta e reforçada tauari, de alburno que substitui entre os caboclos as palhas dos cigarros.
Quanto às madeiras de construção: o pau mulato, as perobas, a carapanaúba, a massaranduba, a itaúba – proeminente no fabrico das canoas – os ipês e os cedros, surgem em todos os pontos, principalmente o primeiro, com o tronco de um polido rebrilhante, ora pardo avermelhado, ora levemente escuro, destacando-se de pronto entre os das outras árvores.
Ao mesmo tempo, uma observação mais íntima, mesmo para quem não se afasta muito das duas bordas do rio, revela outros tipos vegetais de porte mais humilde, mas de importância igual ou maior. Assim, sobretudo a partir do “Furo do Juruá” às últimas cabeceiras do Purus, se vêem numerosos cacauais (theobroma cacáo), adensados às vezes em agrupamento de plantas sociais, e em tal cópia que não exageramos prevendo um largo destino à sua cultura naquela região. Noutros pontos – e destacamos as cercanias de Cataí e de Curanja – é a baunilha (vanilla aromatica) claramente distinguida entre as outras e numerosíssimas orquídeas.
À par destas plantas tão úteis, poderíamos colocar outras, altamente nocivas, se não temêssemos alongarmo-nos demais. Citemos apenas, de passagem, uma que se encontra em profusão no Alto Purus. Chamam-na marona ou paca, em quichua, e, viçando às beiradas do rio, é grandemente temida em virtude das crudelíssimas feridas que produzem seus espinhos de forma igual à das unhas de gato, e escondidos como as deste animal.
Os poucos momentos de que dispusemos para estas observações, não nos permitiram maior cópia de dados acerca de uma flora que exigirá dilatados anos de investigações botânicas.
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Propositadamente deixamos para o fim deste apanhado ligeiro as duas espécies que determinaram o desbravamento e o povoamento de tão extenso território em tempo relativamente curto: a seringueira (hevea brasiliensis), e o caucho (castilloa elastica). Dispensamo-nos de longas considerações botânicas ou técnicas sobre ambas, que têm sido objeto de muitas monografias especiais.
Sujeitos sempre aos dados das nossas próprias observações, indiquemos desde já, no último, um caráter mais cosmopolita que o da primeira. De fato enquanto a castilloa, a partir dos vales do Madre de Diós e do Ucaiale se derrama para o norte transpondo o divortium aquarum do Amazonas para ir florescer quase até além de Ituxu e outros rios do Baixo Purus – a hevea parece ir apenas até Cataí.
A natureza de ambas determinou a do povoamento.
De fato é geralmente sabido que o caucho, depois dos golpes oblíquos com que o sangram, e dos talhos nas sapopembas, mui poucas vezes resiste. A árvore morre da incisão, onde se geram logo inúmeros carunchos que a atrofiam. Por isto o caucheiro não a conserva numa exploração permanente: derruba-a logo para aproveitar, por meio de incisões circulares, de meio em meio metro, todo o leite que ela possui.
A seringueira, pelo contrário, resiste indefinidamente quase, aos talhos metodicamente dispostos nas arriações conhecidas – embora a degenerescência da casca nos pontos feridos e, ao fim de alguns anos, o aspecto das frondes estioladas e pobres de folhas, denunciam o enfraquecimento geral da árvore. De qualquer modo, porém, resiste; e um trabalho inteligente atenua consideravelmente os males destas sangrias anuais. Por isto o seringueiro a conserva.
Destas circunstâncias resultam, exclusivamente, os atributos das duas sociedades novas e originais que tratamos naqueles lugares.
O caucheiro é por força um nômade, um pesquisador errante, estacionando nos vários pontos a que chega até que tombe o último pé de caucho. Daí o seu papel notável no desvendar paragens desconhecidas. Todo o alto Madre de Diós e todo o alto Ucaiale foram entregues à ciência geográfica pelos audazes mateiros, de que é Fitzcarrald a figura mais completa.
Nestas largas peregrinações, sendo inevitável o continuado encontro de tribos variadas, educouse-lhes a combatividade em constantes refregas contra o bárbaro, que lhes deram, consequentemente, mais incisiva que a feição que a feição industrial, a feição guerreira e conquistadora.
O seringueiro é por força sedentário e fixo. Enleiam-no, prendendo-o para sempre ao primeiro lugar em que estaciona, as próprias estradas que abriu, convergentes na sua barraca, e que ele percorrerá durante a sua vida toda. Daí o seu papel, inegavelmente superior, no povoamento definitivo.
De qualquer modo não podemos negar a ambos uma função notabilíssima no atual momento histórico da América do Sul.
De fato, sem eles toda a vasta região que vai de norte a sul das últimas cabeceiras do Inambari à foz do Tarauacá, numa extensão de 7° de latitude, e a que de leste a oeste se desdobra dos Pampas do Sacramento às margens do Madeira, com 13° de longitude, seria ainda o deserto.
Demonstra-lo-ia, claramente, um esboço do povoamento do Purus.
Foi muito rápido e deve-se o princípio a alguns homens abnegados: William Chandless, de serviços que jamais cessaremos de relembrar; Manoel Urbano, um mestiço inteligente e bravo que inegavelmente guiou os primeiros passos do grande explorador; e Fitzcarrald e Collazos que desceram da parte alta do Purus.
Efetuada em 1865 a viagem utilíssima de Chandless, as consequências dos informes que prestou não se fizeram esperar.
Baste notar-se que já em 1870, Canotama centralizava as primeiras barracas esparsas que em breve se estenderiam pela máxima extensão do grande rio. Precisamente naquela época ali aparecera um homem, Antonio Rodrigues Pereira Labre, que completou os esforços dos dous primeiros notáveis pioneiros.
Não precisamos alongar-nos na relação conhecida de suas fecundas explorações geográficas visando essencialmente uma comunicação do Purus com o Beni, ligando o Amazonas com os vastos campos bolivianos de Exaltação e de “los Reys”.
A cidade de Lábrea atestará perenemente o seu valor e a influência que exercia nesses lugares – ao mesmo passo que a travessia do istmo Sepahua e as explorações do Madre de Diós constituirão a eterna glória de Fitzcarrald [e] Collazo.
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Infelizmente não podemos fixar em números positivos os povoamentos quer do baixo, quer do Alto Purus, pelo temor natural de quaisquer lacunas ou enganos cujas responsabilidades avaliamos.
Reservamo-nos, por isto, para apresentar aos nossos governos os dados que obtivemos, desde que no-los reclamem, ou se tornem eles necessários.
Neste relatório timbramos em avançar apenas as proposições de que estamos plenamente seguros. Podíamos tê-lo feito maior, mas não mais firme no travamento de suas conclusões.
Por isto terá, certo, muitas lacunas, mas acreditamos que não poderá ser contestado em nenhuma de suas conclusões gerais.
E a convicção de que trabalhamos com o melhor boa vontade pelas nossas Pátrias, aliando o amor que cada uma delas nos inspira à mais completa imparcialidade no terreno profissional, esta convicção é o melhor prêmio dos nossos esforços e dos nossos sacrifícios.
Manaus, 15 de Dezembro de 1905.
Euclides da Cunha
Pedro A. Buenaño
Consideraciones generales sobre los caractéres físicos de la region y sus habitantes
En páginas anteriores manifestamos cuan poco tiempo nos quedaba para dedicarnos á otros estudios además de los que constituian el objeto principal. Asi, en cuanto á la estructura de los terrenos, á la flora que los adorna, y á la fauna que los puebla, bien poco podemos avanzar con seguridad.
Sobre la naturaleza de los terrenos los materiales que reunimos, fósiles y piedras, los remitimos al museu del Pará, entregándolos á reconocidas competencias en el asunto. Mas, conforme nos indicó juiciosamente el Sr. Emilio Goeldi, digno director de aquel establecimiento, “la investigacion científica de los materiales coleccionados está á veces en una desproporcion casi increible con el tiempo empleado en reunirlos”. Solamente más tarde podremos tener por tanto conclusiones a este respecto, limitándonos por ahora á las deduciones que afirmamos anteriormente relativo al dilatado horizonte geológico de la formacion propia del Pará.
Considerando várias secciones que estudiamos por la observacion de los barrancos del rio, vemos que comprueban aquella formacion hasta mucho más allá de la confluencia del Chandless, la existencia de las tres estructuras caracteristicas en el subsuelo de Amazonas – de asperón estratificado, asperón la gréda, asperón ferruginoso, cuyas capas en una superposición variada constituyen los diversos aspectos de los terrenos. En San Miguel y lugares vecinos este ultimo asperón exhibiendose en extensos estratos de espesura insignificante sobre la formacion argilosa, tiene por el color oscuro y brillante que lo reviste, como una especie de fusion superficial, un aspecto francamente eruptivo.
Pensamos que esta roca, mejor estudiada, dará mucha luz en la fisiologia de Amazonas. Es ella además la que forma vários trechos peligrosisimos en la vaciante del Bajo-Purus – en la Cachoeira y en Pacoval, en Botafogo, donde el canal estrechisimo pasa pegado a las piedras; en Caçaduá, en Guajarahan, donde están los restos de seis lanchas; en Tacaquiry, Cantagallo, etc.
De Curanja para arriba estas condiciones estructurales se transforman, siendo los terrenos principalmente formados de un conglomerado muy consistente y de una especie de silice durisima, talvez aun no definida por la ciencia. – De ambos trajimos espécimens que entregamos á los más competentes para que se forme luego una opinion á este respecto.
Lo mismo decimos de la considerable abundancia de guijarros enrollados de cuarzo oriúndo ciertamente de terrenos primitivos, graníticos, y cuya presencia en tales lugares se hace enteramente inexplicable.
Asi bajo este aspecto nuestro labor se limita á los espécimens que cojimos y confiamos á la definicion posterior de los especialistas, siendo del todo ineficaces cualesquiera consideraciones que hiciésemos en este sentido.
Las mismas restricciones haremos en cuanto á la flóra, que vimos siempre á vuelo de pájaro en la rápida travesia de nuestras embarcaciones. Observaciones incompletas en la continuidad de una dedicacion constante y con la tencion siempre dirijida á nuestro objetivo principal, no podrian suministrarnos datos más precisos sobre tan amplio campo abierto á las investigaciones de las ciencias naturales. Limitarémos por esto á indicar los géneros que por el propio predominio del número, ó por los caractéres bien determinados se impucieron á nuestra contemplacion.
Notamos desde luego una circunstancia que la uniformidad estructural de la region en gran parte explica – y fué el constante aspecto general de la florest, que hasta las cercanias de Catay no varia, dilatándose por toda la extencion del rio com una inmensa y pesada monotonia, con el mismo tono verde del follage, las mismas hileras de arboles de troncos casi rectilineos y muy juntos unos de otros, siguéndo se por lo alto de los barrancos. La pequeña altura relativa del monte, donde se destacan de instante en instante con la figura de enormes casquetes esféricos, los follajes dominantes de las lupunas refleja bien la exuberancia del suelo, que favoreciendo la multiplicidad de las especies, perjudica el propio desenvolvimientode cada una de ellas.
Además de esto las condiciones naturales del medio, del algun modo se oponen con la grande altura de los vegetales.
Estos, merced á una humedad excesiva, disponiendo de todos los elementos de vida, no necesitan sus raices mucha profundidad en el subsuelo. Asi los arboles, de uno modo general, no tienen el éje descendiente. Sus raices extièndense desarrollándose en radículas faciculadas casi a flor de tierra inconsistente y húmeda, que al mismo tiempo que favorece el crecimiento se opone a una exagerada altura capás de hacerlas inestables. Realmente los que se destacan de esta grandesa uniforme, que se desenvuelve en un plano casi al nivél de las cópas de los arboles de los bosques amazónicos, crean disposiciones que explican su altura excepcional con la formacion tan característica de las aletas, en virtud de las cuales se elevan las cópas alterosas de las lupunas y del caucho.
Apesar de esto, á las más cortas ráfagas de una tormenta, és vulgarísimo el hecho de la caida de numerosos arboles, destruyendo largos trechos de floresta.
No precisamos añadir que el bosque solo se desenvuelve en las zonas de los terrenos denominados tierras firmes, que son inaccesibles á las crecientes conmunes. Destácanse claramente de los igapós sujetos á las invasiones de las aguas en las crecientes médias y aún más de la vegetacion característica de las playas que se hallan esparcidas en todas las vueltas y solamente visibles en las vaciantes. Considerándose las continuadas mudanzas del lecho que notámos en el Purus, la funcion principal de esta ùltima definese como una lenta y permanente conquista del suelo. Caracterísanla las retamas (salix humboldtiana), los citicos y las cañas bravas. Arguiéndose óra asociadas, óra desiminadas en todos los lugares de formacion reciente, en una lenta evolucion, preparando el igapó com la aparicion de una laurácea (á que llaman loro del igapó), como este á su vez se transformará más tarde en floresta. Ya tan bien acentuada se halla esta funcion de la vegetacion inferior del Purus, que no pocas veces, independientemente de nuestro levantamiento, percibiamos un lecho recien abandonado por el rio á la simple aparicion de un largo trecho de citicos y gramalotes.
Esta flora marginal desenvuélvese casi sin variacion hasta poco arriba del Curanja, donde, conforme á una exacta observacion de Chandless, desaparecen las retamas sustituidas por una mimosa incomparablemente más artistica, la calliandra trinervia, de largas ramas flexibles, horizontalmente extendidas sobre las aguas, al punto de irlas tocando cuando se vá navegando, interrumpiendo el pasaje en los rios estrechos, como observamos en el Cujar, arriba de la confluencia del Cavaljane.
Nada más podemos añadir con seguridad fuera de estas conclusiones generales, á que anexámos la lista de los principales géneros que nos fué posible observar.
Compréndese que fuera de estas consideraciones bien poco podemos decir sobre las innumerables especies que constituyen la flora admirable de la region. Apuntamos las que se ofreciéron más á nuestra observacion.
Asi entre las palmeras, la camona, que desde la boca del Purus hasta sus cabeceras, és el arbol más empleado en las construcciones conocidas de los lugares, en que las casas y barracones ó tambos, desde la techumbre, paredes, entablado de los pisos, son hechos exclusivamente de las hojas y estipites; la couta, cuyo fruto se emplea para defumar el jebe; la chapaja, profusamente desiminada y distinguiendo á simple vista por su aparicion, aquella flora de la del bajo Amazonas, en donde escacea; la jarina, tambien aplicada á la confeccion de los techos de las viviendas; la catayña, de tronco y hojas espinosas; el aguaje, apareciendo en general fuera de las márgenes, proximo á las quebradas; los pijuallos, de tallo alto y flexible.
Son los más communes. Excusamos de darles el nombre cientifico, por demás sabido, así como tambien las variadas y complejas aplicaciones que sus fibras, hojas e frutos, hacen los habitantes.
Sucédenseles, por el incalculable número en que aparecen en todas las convexidades del rio (sobre todo en la seccion que vá de la boca del Yaco á la del Curanja), los citicos, destinados más tarde á vasto campo industrial en la fabricacion de papel y tecidos, pero reducidos hoy, alli, á la funcion de apoyar la tierra de la degradacion de las aguas. Destácanse en la “tierra firme”, sobresaliendo á los otros arboles las conocidas bombaceas, – lupuna, machinuva y yanahuasca, de cuyo liber se extrae fibras y estopa que emplean en calafetear las canoas y barcos. Aseméjanseles en el tamaño aventajándolos algunas leguminosas, entre las que se distingue el colosal charapilla caspi, cuyo nombre cientifico – dipterix odorata, denuncia su mayor empleo industrial, y una lycytea, alta e fuerte tauary, cuya corteza sustituye entre los indios al papel de cigarros.
En cuanto á maderas de construccion, el remo, caspi, quinilla, itamba empleada en la fabrica de canoas; las capironas y cedros surgen en todos los puntos, principalmente las primeras, cuyo tronco de un pulido brillante, preséntase yá amarillento, yá oscuro, y destácase visiblemente entre el color de los demás arboles.
Al mismo tiempo una observación más minuciosa aún para aquel que no se afasta mucho de las dos márgenes del rio, nota otros tipos vegetales de tamaño más humilde pero de importancia igual á mayor. Asi, sobre todo á partir del caño del Juruá hasta las últimas cabeceras, encuéntranse numerosos piés de cacáo (theobroma cacáo) ordenados á veces en agrupaciones de plantas sociales y en tal abundancia que no exageramos al preveer un gran futuro en su cultivo en aquelles trechos. En otros puntos, y destácanse las cercanias del Catay y Curanja, distinguese claramente la vanilla aromática (baunilla), numerosisimas entre otras arquideas. Al lado de estas plantas tan útiles, podriamos colocar otras muy nocivas se no temiésemos alargarnos demasiado. Citaremos apenas á la ligera una que se encuentra en abundancia en el Alto Purus. Llámanla marona ó paca, y nace proximo á las orillas. La témen por las peligrosas heridas que prodúcen sus espinos en fórma de uñas de gato y ocultas como las de este animal. Los pocos momentos de que disponiamos para estas observaciones no nos permitiéron mayor acópio de datos ácerca de una flora que exigirá dilatados años de investigacion botánica.
De manera estudiada hemos dejado para lo último las dos causas que determinan el avance y el poblamiento de tan extenso territorio en tiempo relativamente corto – la seringuera (hevea brasiliensis) y el caucho (castilloa elastica). Prescindiremos de largas consideraciones botánicas ó técnicas sobre ambos, que yá han sido objeto de muchas monografias especiales. Sujetándonos siempre á los datos obtenidos de nuestras propias observaciones, indicámos desde luego en el último um carácter más cosmopolita que el del primero.
En efecto, mientras que la castilloa, á partir de los valles del alto Madre de Diós y del alto Ucayale, se extiende para el Norte pasando el divortium aquarum del Amazonas y vá á florecer casi hasta mas allá del Ituxy y en otros rios del Bajo Purus, el hevea parece ir en el máximo hasta las proximidades de Santa Rosa.
La naturaleza de ambos determinó la del poblamiento.
En efecto és generalmente sabido que el caucho, despues de dos córtes oblicuos con que lo sángran y de tajos en las aletas, muy pocas veces resiste. El arbol en general muere de la incision, donde se crian luego innumeros animales que lo atrofian. Por esto el cauchero no conserva ninguna exploracion permanente: lo derrumba luego, para aprovechar por medio de incisiones circulares ó elipsoidales, de medio en medio metro, toda la leche que ellos poséen.
La seringa por el contrario resiste casi indefinidamente á los tajos metódicamente dispuestos en las arriaciones conocidas y fuera de la debilitacion de la corteza en los puntos heridos, al fin de algunos años el aspecto del follaje casi descolorido y escasos de hojas denuncian el debilitamiento general del arbol. De cualquier modo, no obstante, resiste y un trabajo inteligente atenua los males de sus sangrias anuales. Por esto el seringuero lo conserva.
De estas circunstancias resúltan exclusivamente las caracteristicas de las sociedades nuevas y enteramente originales que tratamos en esos lugares.
El cauchero és por fuerza nómade, un pesquisador errante estacionándose en los vários puntos á que llega, hasta que cagia el último pié de caucho. De alli su papel notable en el descubrimiento de parajes desconocidos. Todo el alto Madre de Diós y el alto Ucayale fueron entregados á la ciencia geográfica por los audaces montaraces, de que és Fitzcarrald la figura más completa.
En estas largas peregrinaciones siendo inevitable el continuado encuentro de tribus várias, educóseles los instintos de combate en las constantes refriégas con el selvaje, presentando por esta causa con mas propriedad el aspecto guerrero y conquistador que el de industrial.
El seringuero es por fuerza sedentario y fijo. Ligase, radicándose para siempre, en el primer lugar en que se detuvo á las propias estradas que abrió convergentes á su barraca y que él recorrerá durante su vida entera. De alli su papel indudablemente superior al poblamiento definitivo.
De cualquier modo no podemos negar á ambos una funcion notabilisima en el actual momento historico de la America del Sud.
Realmente sin ellos toda la vasta región que de norte á sur vá de las ultimas cabeceras del Inambary á la boca del Tarauacá, en una extencion de 7° de lat. y que de éste á oeste se extiende desde los pampas del Sacramento á las márgenes del Madera, con 13° de long., estaria aún desierta.
Lo demostraria claramente un bosquejo del poblamiento del Purus.
Fué muy rápido y débese su principio á algunos hombres abnegados: William Chandless, cuyos servicios jamás cesaremos de recordar; Manuel Urbano, un mestizo inteligente y bravo que inegablemente guió los primeros pasos del gran explorador, y Fitzcarrald y Collazos, que descendiéron en la parte alta del Purus.
Efectuada en 1865 el viaje utilisimo de Chandless, la consecuencia de sus informes no se hicieron esperar.
Basta notar que ya en 1870, Canutama centralizaba las pequeñas barracas esparcidas que en breve se erigiéron en toda la extension del grande rio.
Precisamente en esta época alli apareció un hombre, Antonio Rodrigues Pereira Labre, que completó los esfuerzos de los primeros notables exploradores.
No precisamos extendernos en la relacion conocida de sus importantes exploraciones geográficas estableciendo esencialmente una comunicacion del Purus con el Beni, ligando el Amazonas con los vastos campos bolivianos de Exaltacion y de Reys.
La ciudad de Labrea atestiguará perenemente su valor y la influencia que ejerció en estos lugares – al mismo tiempo que la travesia del istmo de Sepahua y las exploraciones de Madre de Diós constituirán la eterna gloria de Fitzcarrald y Collazos.
Desgraciadamente no podemos fijar en algarismos positivos el número de habitantes, tanto del bajo como del alto Purus, por temor natural de cualquier equivocacion ó engaño, cuyas responsabilidades avaliamos. Reservámonos por esto para presentar á nuestros Gobiernos los datos que obtuvimos, siempre que nos los pidan ó se les hágan necesarios.
En este informe hemos procurado abarcar aquellas proposiciones de que estamos plenamente seguros.
Podiamos haberlo echo más extenso, pero no más firme en el enlace dado a sus conclusiones.
Pero esto él ofrecerá ciertamente muchas lacunas, pero creemos que no podrá ser refutado en ninguna de sus conclusiones generales.
Y la conviccion de que trabajamos con la mejor buena voluntad por nuestras Patrias aunando al amor por cada una de ellas la más completa imparcialidad en el tereno profesional – esta conviccion és el mejor premio de nuestros esfuerzos y de nuestros sacrificios.
Manáos, Diciembre 15 de 1905.
Pedro A. Buenaño
Euclides da Cunha
BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Relatório da Comissão Mista Brasileiro-Peruana de Reconhecimento do Alto Purus. Texto e pesquisa de Euclides da Cunha, pesquisa, rev. e trad. espanhol de Pedro Alejandro Buenaño. In: EUCLIDESITE. Notas de Oswaldo Galotti e Juan C. P. de Andrade, org. Juan C. P. de Andrade. Obras de Euclides da Cunha. São Paulo, 2020. Disponível em: https://euclidesite.com.br/obras-de-euclides/relatorio-da-comissao-mista-brasileiro-peruana-de-reconhecimento-do-alto-purus/ Acesso em: [data]. Reprod. BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Relatório da Comissão Mista Brasileiro-Peruana de Reconhecimento do Alto Purus: notas complementares do comissário brasileiro (1904-1905). Texto e pesquisa de Euclides da Cunha, pesquisa, rev. e trad. espanhol de Pedro Alejandro Buenaño. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1906. 7, 88, 76 pp., 2 fls. de lâminas dobradas, 2 mapas dobrados. 25 cm. Exemplar da coleção Dr. Oswaldo Galotti, Acervo Casa de Cultura Euclides da Cunha, São José do Rio Pardo, São Paulo. Ortografia atualizada.