Preâmbulo

Amazônia, ainda sob o aspecto estritamente físico, conhecemo-la aos fragmentos. Mais de um século de perseverantes pesquisas, e uma literatura inestimável, de numerosas monografias, mostram-no-la sob incontáveis aspectos parcelados. O espírito humano, deparando o maior dos problemas fisiográficos, e versando-o, tem-se atido a um progresso obrigatoriamente analítico, que se, por um lado, é o único apto a facultar elementos seguros determinantes de uma síntese ulterior, por outro, impossibilita o descortino do conjunto. Mesmo nos recantos das especialidades realizam-se, ali, diferenciações inevitáveis: aos geólogos, iludidos a princípio pelas aparências de uma falsa uniformidade estrutural, ainda não lhes sobrou o tempo para definirem um só horizonte paleontológico; aos botânicos não lhes chegam às vidas, adicionadas desde Martius a Jacques Huber, para atravessá-las à sombra de todas as palmeiras… Lemo-los; instruímo-nos; edificamo-nos; apercebemo-nos de rigorosos ensinamentos quanto às infinitas faces, particularíssimas, da terra; e, à medida que as distinguimos melhor, vai-se nos turvando, mais e mais, o conspecto da fisionomia geral. Restam-nos muitos traços vigorosos e nítidos, mas largamente desunidos. Escapa-se-nos, de todo, a enormidade que só se pode medir, repartida; a amplitude, que se tem de diminuir, para avaliar-se; a grandeza que só se deixa ver, apequenando-se, através dos microscópios; e um infinito que se dosa a pouco e pouco, lento e lento, indefinidamente, torturantemente.

Mas, ao mesmo passo, convém-se em que esta marcha sobremaneira analítica, e de longo discurso remorado, é fatal. A inteligência humana não suportaria, de improviso, o peso daquela realidade portentosa. Terá de crescer com ela, adaptando-se-lhe, para dominá-la. O exemplo de Walter Bates atesta-o. O grande naturalista assistiu mais de um decênio na Amazônia, realizando descobertas memoráveis, que esteiaram o evolucionismo nascente; e, durante aquele período de aturado esforço, não saiu da estreita listra litorânea desatada entre Belém e Tefé. Dali, surpreendeu os Institutos da Europa; conquistou a admiração de Darwin; refundiu ou recompôs muitos capítulos das ciências naturais; e ao cabo de tão fecunda empresa poderia garantir que não esgotara sequer o recanto apertadíssimo em que se acolhera. Não vira a Amazônia. Daí o ter visto mais que os seus predecessores.

É natural. A terra ainda é misteriosa. O seu espaço é como o espaço de Milton: esconde-se em si mesmo. Anula-a a própria amplidão, a extinguir-se, decaindo por todos os lados adscrita à fatalidade geométrica da curvatura terrestre, ou iludindo as vistas curiosas com o uniforme traiçoeiro de seus aspectos imutáveis. Para vê-la deve renunciar-se ao propósito de descortiná-la. Tem-se que a reduzir, subdividindo-a, estreitando, e especializando, ao mesmo passo, os campos das observações, consoante a norma de W. Bates, seguida por Frederico Hartt, e pelos atuais naturalistas do museu paraense. Estes abalançam-se, hoje, ali, a uma tarefa predestinada a conquistas parciais tão longas, que todas as pesquisas anteriores constituem um simples reconhecimento de três séculos.

É a guerra de mil anos contra o desconhecido. O triunfo virá ao fim de trabalhos incalculáveis, em futuro remotíssimo, ao arrancarem-se os derradeiros véus da paragem maravilhosa, onde hoje se nos esvaem os olhos deslumbrados e vazios.

Mas então não haverá segredos na própria Natureza. A definição dos últimos aspectos da Amazônia será o fecho de toda a História Natural…

*

Imagine-se, entretanto, uma inteligência heroica, que se afoite a contemplar, de um lance e temerariamente, a Esfinge.

Titubeará na vertigem do deslumbramento. Mostra-no-lo este livro.

Linhas nervosas e rebeldes, riscadas ao arrepio das fórmulas ordinárias do escrever, relevam-nos, graficamente visíveis, as trilhas multívias e revoltas e encruzilhadas lançando-se a todos os rumos, volvendo de todas as bandas, em torcicolos, em desvios, em repentinos atalhos, em súbitas paradas, ora no arremesso de avances impetuosos ora, de improviso, em recuos; aqui, pelo clivoso abrupto dos mais alarmantes paradoxos, além, desafogadamente retilíneas, pelo achanado e firme dos conhecimentos positivos de uma alma a divagar, intrépida e completamente perdida, entre resplendores.

O Inferno verde, a começar pelo título, devia ser o que é: surpreendente, original, extravagante; feito para despertar a estranheza, o desquerer, e o antagonismo instintivo da crítica corrente, da crítica sem rebarbas, sem arestas rijas, lisa e acepilhada de ousadias a traduzir, no conceito vulgar da arte, os efeitos superiores da cultura humana.

Porque é um livro bárbaro. Bárbaro, conforme o velho sentido clássico: estranho. Por isto mesmo, todo construído de verdades, figura-se um acervo de fantasias. Vibra-lhe, em cada folha, um doloroso realismo, e parece engenhado por uma idealização afogueadíssima. Alberto Rangel tem a aparência perfeita de um poeta, exuberante demais para a disciplina do metro ou da rima, e é um engenheiro adicto aos processos técnicos mais frios e calculados. A realidade surpreendedora entrou-lhe pelos olhos através da objetiva de um teodolito. Armaram-se-lhes os cenários fantásticos nas redes das trianguladas. O sonhador norteou a sua marcha, balizando-a pelos rumos de uma bússola. Conchavam-se-lhe os mais empolgantes lances e os azimutes corrigidos. E os seus poemas bravios escreveram-se nas derradeiras páginas das cadernetas dos levantamentos.

Inverteu, sem o querer, os cânones vulgaríssimos da arte. É um temperamento visto através de uma natureza nova. Não a alterou. Copiou-a, decalcando-a. Daí as surpresas que despertará. O crítico das cidades que não compreender este livro será o seu melhor crítico. Porque o que ai é fantástico e incompreensível, não é o autor, é a Amazônia…

A sua impressionabilidade artística tentou abranger o conjunto da terra e surpreender-lhe a vida maravilhosa. Deve assombrar-nos. Não lhe entendemos o exagerado panteísmo.

O escritor alarma-nos nas mais simples descrições naturais. O que se diz natureza morta agita-se-lhe poderosíssima, sob a pena; e imaginamos que há fluxos galvânicos nas linhas onde se parte a passividade da matéria e as coisas duramente objetivas se revestem de uma anômala personalidade.

Matas a caminharem vagarosamente, viajando nas planuras, ou estacando, cautas, à borda das barreiras a pique, a refletirem, na desordem dos ramalhos estorcidos, a estupenda conflagração imóvel de uma luta perpétua e formidável; lagos que nascem, crescem, se articulam, se avolumam no expandir-se de uma existência tumultuária, e se retraem, definham, deperecem, sucumbem, extinguem-se e apodrecem feitos extraordinários organismos, sujeitos às leis de uma fisiologia monstruosa; rios pervagando nas solidões encharcadas, à maneira de caminhantes precavidos, temendo a inconsistência do terreno, seguindo

com a disposição cautelosa das antenas dos ‘furos’…

São a realidade, ainda não vista a despontar com as formas de um incorrigível idealismo, no claro-escuro do desconhecido…

Um sábio no-la desvendaria, sem que nos sobressaltássemos, conduzindo-nos pelos infinitos degraus, amortecedores, das análises cautelosas. O artista atinge-a de um salto; adivinha-a; contempla-a do alto; tira-lhe, de golpe, os véus; desvendando-no-la na esplêndida nudez da sua virgindade portentosa.

Realmente, a Amazônia é a última página, ainda a escrever-se, do Gênesis.

Tem a instabilidade de uma formação estrutural acelerada. Um metafísico imaginaria, ali, um descuido singular da natureza, que após construir, em toda a parte, as infinitas modalidades dos aspectos naturais, se precipita, retardatária, a completar, de afogadilho, a sua tarefa, corrigindo, na paragem olvidada apressadamente, um deslize. A evolução natural colhe-se, no seu seio, em flagrante.

O raio da vida humana, que noutros lugares não basta a abranger as vicissitudes das transformações evolutivas da terra e tem de dilatar-se no tempo, revivendo, nas profecias retrospectivas, as extintas existências milenárias dos fósseis, – ali abarca círculos inteiros de transmutações orogênicas expressivas. A geologia dinâmica não se deduz, vê-se; e a história geológica vai escrevendo-se, dia a dia, ante as vistas encantadas dos que saibam lê-la. Daí, as surpresas. Em toda parte afeiçoamo-nos tanto ao equilíbrio das formas naturais, que já se apelou para uma tumultuária hipótese de cataclismos, a fim de se lhes explicarem as modificações subitâneas; na Amazônia, as mudanças extraordinárias e visíveis ressaltam no simples jogo das forças físicas mais comuns. É a terra moça, a terra infante, a terra em ser, a terra que ainda está crescendo…

Agita-se, vibra, arfa, tumultua, desvaira. As suas energias telúricas obedecem à tendência universal para o equilíbrio precipitadamente. A sua fisionomia altera-se diante do espectador imóvel. Naquelas paisagens volúveis imaginam-se caprichos de misteriosas vontades.

E, ainda sob o aspecto secamente topográfico, não há fixá-la em linhas definitivas. De seis em seis meses, cada enchente que passa é uma esponja molhada sobre um desenho malfeito: apaga, modifica, ou transforma os traços mais salientes e firmes, como se no quadro de suas planuras desmedidas andasse o pincel irrequieto de um sobre-humano artista incontentável…

*

Ora entre as magias daqueles cenários vivos, há um ator agonizante, o homem. O livro é, todo ele, este contraste.

Assim, o assunto se engravesce. A atitude do escritor delineia-se, forçadamente em singularíssimo destaque. O seu aspecto anômalo de fantasista acentua-se no ajustar-se, linha por linha, às aparências terríveis da verdade.

Mas exculpemo-lo aplaudindo. Alberto Rangel agarrou, num belo lance nervoso, o período crítico e fugitivo de uma situação, que nunca mais se reproduzirá na história.

Esta felicidade compensa-lhe o rebarbativo dos assuntos.

No Amazonas acontece, de feito, hoje, esta cruel antilogia: sobre a terra farta e a crescer na plenitude risonha da sua vida, agita-se, miseravelmente, uma sociedade que está morrendo…

Não a descreveremos. Temos este livro. Ele enfeixa os sinais comemorativos das moléstias. E melhor do que o faríamos em maciços conceitos, vibram-lhe os comoventes lances de uma deplorável agonia coletiva, em 11 capítulos, que são onze miniaturas de Rembrandt, refertas de apavorante simbolismo.

Contemplando-as vereis como se sucedem e se revezam – entre as gentes pervagantes no solo, que lhes nega a própria estabilidade física, escapando-se-lhes nas “terras caídas” e nas inundações – todos os anseios, cindidos de proditórias esperanças, que as trabalham, e as aviventam, sacrificando-as.

Maibi é a imagem da Amazônia mutilada pelas miríades de golpes das machadinhas homicidas dos seringueiros. Na Hospitalidade, o homem decaído volve, em segundos, por um milagre de atavismo, à tona da humanidade, antes de mergulhar de uma vez na sombra, dia a dia mais espessa, da sua decrepitude moral irremediável.

Teima da vida é a comunidade monstruosa, sem órgãos perfeitos, recém-nascida e moribunda, vegetando por um prodígio da natureza mirífica, cujos dons ela monopolizou em detrimento de raças mais robustas, que noutros territórios sucumbem, combalidas, esmagadas pelos antagonismos naturais.

Nos demais, o mesmo traço pessimista e lúgubre. É compreensível.

Na terra extraordinária conchavam-se, por vezes, os elementos físicos mais simples e os mais graves da ordem moral, para exprimirem a mesma fatalidade. Lêde, por exemplo: a Obstinação.

A tragédia decorre sem peripécias, a desfechar logo, fulminantemente. Um potentado ambiciona as terras de um caboclo desprotegido. Toma-lhas, emparceirando-se à justiça decaída. O caboclo obstina-se, e vence num lance de loucura a tremenda inquidade: para ficar na sua terra e para sempre, enterra-se vivo e morre. É simples, é inverossímil; mas é um aspecto da organização social da Amazônia. A grei selvagem copia, na sua agitação feroz, a luta inconsciente pela vida que se lhe mostra na ordem biológica inferior.

O homem mata o homem como o parasita aniquila a árvore. A Hilæ encantadora, de Humboldt, dá-lhe esta lição medonha:

O apuizeiro é um polvo vegetal. Enrola-se ao indivíduo sacrificado, estendendo sobre ele milhares de tentáculos. O polvo de Gilliat dispunha de 8 braços e 400 ventosas; os do apuizeiro não se enumeram. Cada célula microscópica, na estrutura de seu tecido, se amolda numa boca sedenta. E é a luta sem um murmúrio. Começa pela adaptação ao galho atacado de fio lenhoso, vindo não se sabe de onde. Depois, esse filete intumesce e, avolumado, se põe, por sua vez, a proliferar em outros. Por fim, a trama engrossa e avança, constrangente, para malhetar a presa, a que se substitui completamente. Como um sudário, o apuizeiro envolve um cadáver; o cadáver apodrece, o sudário reverdece imortal.
O abieiro teria vida por pouco. Adivinhava-se um esforço de desespero no mísero enleado, decidido a romper o laço da distrição, mas o manietador parecia fazer-se mais forte, travando com todas as fibras constritivas o desgraçado organismo, que o arrocho paulatino e inaudito ia estrangulando. E isto irremediavelmente. Com um facão poder-se-ia despedaçar os tentáculos e arrancá-los. Bastaria, porém, deixar um pequeno pedaço de filamento capiláceo colado à árvore, para que, em renovos, o carrasco reacometesse a vítima, que não se salvaria. O pólipo é um polipeiro. Vivem gerações num só corpo, numa só parte, numa só esquírola. Tudo é vida por menor que seja o bloco. Não há reduzi-la a um indivíduo. É a solidariedade do infinitamente pequeno, essencial, elementar, inseparável na república dos embriões sinérgicos. O que fica basta sempre à revivescência, reproduz-se fácil, na precipitação latente e irrefreável de procriar sempre.
A copa de pequenas folhas coriáceas e glabras do abieiro sumia-se, quase, na larga folharia da parasita monstruosa.
Representava, na verdade, esse duelo vegetal, espetáculo perfeitamente humano. Roberto, o potentado, era um apuizeiro social…

Um botânico descrever-nos-ia certo, com maior nitidez, a maligna morácea, começando por inquirir-lhe, gravemente, o gênero (ficus fagifolia?… ficus pertusa?…). Porém não no-la pintaria tão viva, nos seus caracteres golpeantes. Por outro lado, um sociólogo não depararia conceitos a balancearem a eloquência sintética daquela imagem admirável.

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Aquele extrato resume o estilo do livro. Vê-se bem: é entrecortado, sacudido, inquieto, impaciente. Não se desafoga, distenso, em toda a amplitude das ondas sonoras da palavra, permitindo a máxima expansão aos pensamentos tranquilos. Constringe-se entre as pautas, cinde-se numa pontuação inopinada, estaca em súbitas reticências…

Na interferência acústica, os pontos silenciosos explicam-se pelo próprio cruzamento dos sons. Há interferências mentais naqueles períodos breves, instantâneos, incompletos às vezes, feridos constantemente pelas próprias incidências das ideias, numerosas demais. Sente-se que o escritor está entre homens e coisas, uns e outras dúbios, mal aflorando às vistas pela primeira vez, laivados de mistérios. O pensamento faz-se-lhe, adrede, vibrátil, ou incompleto, a difundir-se de improviso no vago das reticências, por não se desviar demasiado das verdades positivas que se adivinham. As imagens substituem as fórmulas. Realmente, fora impossível subordinar as regras prefixas, efeitos de longos esforços culturais, as impressões que nos despertam a terra e as gentes, que mal se descortinam, agora, aos primeiros lampejos da civilização.

Além disto, Alberto Rangel é um assombrado diante daquelas cenas e cenários; e num ímpeto ensofregado de sinceridade, não quis reprimir os seus espantos, ou retificar, com a mecânica frieza dos escreventes profissionais, a sua vertigem e as rebeldias da sua tristeza exasperada.

Fez bem; e fez um grande livro.

Vão respigar-lhe defeitos. Devem-se distinguir, porém os do escritor, dos do assunto.

Quem penetrou tão fundo o âmago mais obscuro da nossa gens primitiva e rude, não pode reaparecer à tona, sem vir coberto da vasa dos abismos…

Ademais, o nosso conceito crítico é de si mesmo instável e as suas atuais sentenças transitórias. Antes de o exercitar em trabalhos desta espécie, cuja aparência anômala lhes advém de uma profunda originalidade, cumpre-nos não esquecer o falso e o incaracterístico da nossa estrutura mental, onde, sobretudo preponderam reagentes alheios ao gênio da nossa raça. Pensamos demasiado em francês, em alemão, ou mesmo em português. Vivemos em pleno colonato espiritual, quase um século após a autonomia política. Desde a construção das frases ao seriar das ideias, respeitamos em excesso os preceitos das culturas exóticas, que nos deslumbram – e formamos singulares estados de consciência a priori, cegos aos quadros reais da nossa vida, por maneira que o próprio caráter desaparece-nos, folheado de outros atributos, que lhe truncam, ou amortecem, as arestas originárias.

O que se diz escritor, entre nós, não é um espírito a robustecer-se ante a sugestão vivificante dos materiais objetivos que o rodeiam, senão a inteligência, que se desnatura numa dissimulação sistematizada. Institui-se uma sorte de mimetismo físico nessa covardia de nos forrarmos, pela semelhança externa, aos povos que nos intimidam e nos encantam. De modo que, versando as nossas coisas, nos salteia o preconceito de sermos o menos brasileiro que nos for possível. E traduzi-mo-nos eruditamente, em português, deslembrando-nos que o nosso orgulho máximo deverá consistir em que ao português lhe custasse o traduzir-nos, lendo-nos na mesma língua.

De qualquer modo, é tempo de nos emanciparmos.

Nas ciências, mercê de seus reflexos filosóficos superiores estabelecendo a solidariedade e harmonia universais do espírito humano, compreende-se que nos dobremos a todos os influxos estranhos.

Mas nenhum mestre, além das nossas fronteiras, nos alentará a impressão artística, ou poderá sequer interpretá-la. A frase impecável de Renan, que esculpiu a face convulsiva do gnóstico, não nos desenharia o caucheiro; a concisão lapidária de Herculano depereceria inexpressiva na desordem majestosa do Amazonas.

Para os novos quadros e os novos dramas, que se nos antolham, um novo estilo, embora o não reputemos impecável nas suas inevitáveis ousadias.

É o que denuncia este livro.

Além disto, enobrece-o uma esplêndida sinceridade.

É uma grande voz, pairando, comovida e vingadora, sobre o inferno florido dos seringais, que as matas opulentas engrinaldam e traiçoeiramente matizam das cores ilusórias da esperança.

Como citar
CUNHA, Euclides da. Preâmbulo. In: EUCLIDESITE. Obras de Euclides da Cunha. Prefácios e críticas. São Paulo, 2020. Disponível em: https://euclidesite.com.br/obras-de-euclides/prefacios-e-criticas/. Acesso em: [data]. Texto digitalizado com base em: CUNHA, Euclides da. Inferno verde. Outros contrastes e confrontos. In: Obra completa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2009. pp. 592-8. Publicado originalmente em RANGEL, Alberto. Inferno Verde: Scenas e scenarios do Amazonas. Com um prefácio de Euclydes da Cunha e desenhos por Arthur Lucas. Genova: S.A.I. Cliches Calluloide Racigalupi, 1908. pp. 3-21.