[Homenagem a Gonçalves Dias]

Evolucionista, Rio de Janeiro, 31 de agosto de 1883

Fez no dia 10 do corrente 59 anos [sic] que nasceu Antônio Gonçalves Dias, o poeta ardente — do qual as inspiradas estrofes foram cintilantes pérolas engastadas na coroa que aureola hoje a fronte da nossa pátria; o cantor — mais ainda: — o Gênio que ora sabia rugir a voz possante do Timbira, ora soluçar as plangentivas e líricas odes que tanto nos falam ao coração e nos deleitam a alma.

Filho do Maranhão, abriu os olhos a um beijo cheio de estrofes do sol do equador — que golfejou-lhe no crânio as mais rutilantes ideias… Depois deixou-se atrair pela vastidão sublime e impregnada de poesia do nosso céu, e dele fez o imenso crisol do seu gênio!… Deixou-se prender pelo oceano — poeta do infinito — incansável em repetir suas epopeias eternas às plantas da imensidade — e aprendeu com ele a fremir também!

O seu túmulo foi digno da vastidão do seu Gênio: tem por coroa imensa o céu tecido de estrelas, coberto da poeira cintilante das ardentias, sempre cheio de músicas sonoras e poemas grandiosos que o tufão soluça no ouvido pétreo das torvas penedias.

Ícaro e Penseroso

Como citar
PINTO, Boaventura, pseud. Penseroso; CUNHA, Euclides da, pseud. Ícaro. [Homenagem a Gonçalves Dias] (sem título). EUCLIDESITE. Obras de Euclides da Cunha. Dispersos e Fragmentos. São Paulo, 2021. Disponível em: https://euclidesite.com.br/obras-de-euclides/dispersos-e-fragmentos/homenagem-a-goncalves-dias. Acesso em: [data]. Reprod.  sem as notas e comentários de: BERNUCCI, Leopoldo M.; RISSATO, Felipe Pereira. Engenho, arte e parceria: quatro inéditos de Euclides da Cunha. Revista do NELE (Núcleo de Estudos do Livro e da Edição/ USP), Cotia, São Paulo, Ateliê Editorial, n. 5, 2016, p. 224. Publicado originalmente no periódico Evolucionista, Órgão da Mocidade, Rio de Janeiro, ano 1, n. 10, 31 de agosto de 1883, p. 2 (Coleção Plínio Doyle, Obras Raras, Biblioteca Nacional)