Fragmento

Ah, meu amigo — se realmente, como se diz, todo artista — ampliando, todo pensador — é antes de tudo um homem absolutamente imerso numa impressão dominante — que seria do Hamlet se Shakespeare tivesse em certos dias de calcular a curva de momentos de uma viga metálica; que seria da mecânica celeste se Newton desprezasse as forças intelectuais vigilantes que agarraram de chofre, na queda de uma maçã, a queda circular dos mundos — para escrever as cotas de um nivelamento —; que seria do estupendo Moisés, tão genialmente incorreto, se Michelangelo tivesse de alinhar de quando em quando, aritmeticamente chatas, as parcelas de um orçamento…?

Como citar
CUNHA, Euclides da. Fragmento. In: EUCLIDESITE. Obras de Euclides da Cunha. Dispersos e fragmentos. São Paulo, 2021. Disponível em: https://euclidesite.com.br/obras-de-euclides/dispersos-e-fragmentos/fragmento/. Acesso em: [data]. Reprod. de: Fragmento (de um caderno íntimo, de Lorena, 1902). In: CUNHA, Euclides da. Obra completa. Fragmentos e relíquias. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2009. v. 1. p. 825. Publicado originalmente na Revista do Grêmio Euclides da Cunha, Rio de Janeiro, 15 ago. 1917. pp. 25-6.