[A década…]

A década que vai de 1815 a 1825 foi essencialmente romântica. Passada a formidável desordem napoleônica, viu-se que os mesmos exageros e gloriosas loucuras do curso que estavanadamente arremetera com a civilização constituíam poderosos estímulos à renovação geral dos espíritos. As guerras continuadas, sucessivas, campanhas semanais a assoberbar fronteiras, exércitos em que se confundiam todas as línguas parece terem tido pelo menos um efeito: embaralharam inextricavelmente os destinos das raças. De sorte que quando a tormenta passou, a remoção dos destroços, o renovar do que se destruíra – o conserto de toda a história universal que se abalara – implicavam uma tarefa de conjunto e a convergência de todas […] forças nacionais. À Santa Aliança, […] vir firmada por amor da autoridade governamental fundamente ferida, contrapôs-se a aliança instrutiva dos povos. E o romantismo despontara no espírito a um tempo imaginoso e positivo de Goethe, como a fórmula superior da nova idade que se abriu, como se entre as glórias sanguinolentas de um passado ainda recente – e as vastas perspectivas do seu futuro duvidoso, repassasse à alma das nacionalidades a tristeza desalentada de Werther, de par com o idealismo vigoroso do Fausto. Em toda a parte, as mesmas esperanças trabalhadas de dúvidas e a ânsia de viver, retraindo-se à imagem retrospectiva das catástrofes…

Daí o traço de uniformidade característico de todas as manifestações do espírito; e – mais expressiva ainda – a solidariedade, nunca dantes igualada entre a alma popular e o gênio dos pensadores. Na mesma ordem política, o abstrato princípio das nacionalidades, imergente, ressoava nas rimas dos poetas; e quando os movimentos populares [interrompido]

Como citar
CUNHA, Euclides da. [A década…]. In: EUCLIDESITE. Obras de Euclides da Cunha. Dispersos e fragmentos. Disponível em: Acesso em: [data]. Manuscrito avulso, sem título, c. 1904. Fonte: Biblioteca Nacional. Reprod. sem as notas dos editor de: CUNHA, Euclides da. Ensaios e inéditos. orgs. Leopoldo M. Bernucci e Francisco Foot Hardman, org. Leopoldo M. Bernucci e Felipe Pereira Rissato. São Paulo: Editora Unesp, 2018. pp. 87-8.