- A Francisco Escobar. [S.l., 189-].
- A Reinaldo Porchat. [S.l., 189-]. Cartão de visita.
- A Reinaldo Porchat. [S.l., 189-]. Cartão de visita.
- Ao Pai, Manoel Rodrigues Pimenta da Cunha. Rio de Janeiro, 14 jun. 1890.
[Sem local, 189- ]
[cartão de visita]
Porchat, amigo.
Vos envio muito saudar!
Estilo antigo, como vês, estilo de quem aproveita longa estada no leito da dor, com um reumatismo tenaz, para decifrar a velha linguagem dos cronistas do século XVII. Recebi tua carta e a Cigarra. Obrigadíssimo. Foi bom que o Estado nada dissesse sobre o Correio: encontrei tudo nos eixos. Estou felizmente restabelecido de cruel incômodo. Não gostaste então da Minas […]? Também confesso-te que Minas é um pouco melhor. Leste o capítulo “Problema Histórico”? Quanta erudição maçuda! Que maravilhoso narcótico! Eu e a Saninha muito nos recomendamos a toda a tua família. Escreva sempre e disponha do amo velho
Euclides
[Sem local, 189- ]
[cartão de visita]
Porchat
Ontem, muito tarde já, recebi a carta que a este acompanha. O único meio que achei para satisfazer o que nela me pede o meu cunhado é este: pedir-te que fales ao Filinto a respeito; verás que se trata de questão de interesse geral. Será bom falares também com outro jornalista. Recomende ao Filinto que não declare haver partido de mim a reclamação porque em tal caso cairia eu só sob as iras do cidadão chefe da Estação da Aurora ― e não receberia mais cartas, nem jornais. Desculpe-me tanta maçada; muito breve estarei de volta. Escrevo este sobre o joelho, prestes a tomar o tílburi que me levará à Estação. Receba apertado abraço do amo
Euclides
Rio, 14 de junho de 1890
Meu Pai
Desejo-lhe muitas felicidades e saúde bem como a Adélia, da qual até agora ainda não recebi carta alguma em resposta a muitas que já lhe tenho escrito. Recebi uma carta sua um dia após a um telegrama em que o sr. dizia não poder vir agora por se achar com os trabalhos da colheita de café e esperava o sr. Claudiano. Espero pois o sr. e Adélia em princípios de julho e não posso dizer com que alegria espero o momento de vê-lo abraçar aquela a quem já chamou de nova filha e que verdadeiramente é em tudo digna disto.
Disse o sr. que tendo o casamento de se realizar em setembro havia muito tempo para os aprestos dele; me parece, porém, e será mais conveniente para mim, que ele poder-se-á realizar antes, em agosto, por exemplo e já acordaram neste ponto comigo a d. Túlia e o coronel Solon. Assim eu terei tempo de harmonizar essa brusca mudança de estado com a quadra trabalhosa dos meses de outubro, novembro ― sem o menor prejuízo para os meus estudos. Já agora eu sinto ― e confesso ao sr. com a maior sinceridade que me seria penosíssimo esperar, pois é muito difícil afastar a preocupação constante que alimento e prefiro antes do que pensar nas grandes responsabilidades do futuro, senti-las e desempenhá-las. A conselho do Solon desliguei-me inteiramente de algumas ligações políticas que começava a ter; não escrevo de há muito para a Democracia ― Parece-me que fiz bem; desconfio muito que entramos no desmoralizado regime da especulação mais desensofrida e que por aí pensa-se em tudo, em tudo se cogita, menos na Pátria. As minhas aspirações acham-se contudo de pé: retraio-me agora; estudarei, tratarei de formar melhor o meu espírito e o meu coração e mais tarde, passada essa febre egoística e ruim que parece alucinar a todos, quando sentir-se necessidade de homens e os que atualmente escalam cegamente as posições, conscientes da própria fraqueza, delas abdicarem voluntariamente ― aparecerei então, se puder, se quiserem. Sei que o sr. aprova esse proceder ― pelo menos porque assim procedendo eximo-me à decomposição geral que por aqui parece visar o aniquilamento das mais sólidas individualidades. Imagine o sr. que o Benjamin, o meu antigo ídolo, o homem pelo qual era capaz de sacrificar-me, sem titubear e sem raciocinar, perdeu a auréola, desceu à vulgaridade de um político qualquer, acessível ao filhotismo, sem orientação, sem atitude, sem valor e desmoralizado ― dói-me dizer isto ― justamente desmoralizado. Eu creio que se não tivesse a preocupação elevada e digna que me nobilita, teria de sofrer muito, ante esse descalabro assustador, ante essa tristíssima rumaria de ideais longamente acalentados… Eu sinto-me feliz considerando que o sr. se acha aí, longe, bem longe do ambiente corrupto que nos envolve aqui.
Peço-lhe que me responda com brevidade. Não posso dar notícias de amigos e conhecidos porque não tenho descido à cidade.
Peço-lhe que dê por mim um apertado abraço em Adélia e abençoe ao seu filho e amo
Euclides