Juan C. P. de Andrade
Euclides da Cunha ganhou notoriedade com Os Sertões. Depreendemos que conseguiu o que pretendia, mas por outras vias. A crítica aos militares e o estudo que dedicou ao fator étnico não causaram o impacto esperado pelo autor. A obra foi além do seu engajamento e indignação contemporânea e ainda hoje sobrevive pelas características “bárbaras” e “civilizadas” que nela se conciliam. O livro serve tanto ao povo (força do “estouro da boiada”) quanto ao douto (descrição do locus amoenus de Monte Santo). Tanto ao sem-terra quanto ao proprietário dos bens materiais e culturais, sempre disposto a acionar o poder público para coibir supostos abusos com violência e saber “não-científico” com escolarização bancária.
Os Sertões ainda é atual. Apesar de seu vocabulário e estilo, pode, deve e é, felizmente, lido pelo público. Mas, por um lado, o público iletrado brasileiro sempre apreciou mais as descrições pitorescas ou comoventes e períodos com pompa oratória, abundantes em Os Sertões e extinguidos apenas na Semana de 22, do que a linguagem, a história e os costumes do Brasil desconhecido. Por outro lado, o público sente o que os pesquisadores de curiosidades literárias não percebem: o silêncio que se segue após a leitura de Os Sertões.