Luís Fernando Ribeiro Almeida
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Linguagens e Cultura (PPGCLC), da Universidade da Amazônia (UNAMA). Desde 2009, pesquisador da vida e da obra do escritor fluminense Euclides da Cunha (1866-1909). Professor da rede pública de ensino.
Há exatos 152 anos, no dia 20 de janeiro de 1866, na Fazenda Saudade, em Santa Rita do Rio Negro, pertencente ao município de Cantagalo, localizado na região serrana da então província do Rio de Janeiro, nascia Euclides da Cunha, um dos grandes escritores brasileiros do século XX. Consagrado por sua obra-prima Os Sertões, publicada em dezembro de 1902, fez ressurgir no cenário da principiante República os debates sobre os conflitos da Guerra de Canudos, ocorrida em 1897, no norte da Bahia. O sucesso do seu “livro vingador” rendeu-lhe, em 1903, a eleição para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de nº 7, tendo por patrono o poeta dos escravos Castro Alves.
Avesso aos “modismos” da belle époque nos trópicos, seu desejo por revolver o Brasil profundo o conduziu a duas regiões tão significativas na constituição do povo brasileiro, o sertão nordestino e a floresta amazônica. Esse certo sentimento íntimo, o escritor revelara em carta, datada de 7 de julho de 1904, ao amigo José Veríssimo (1857-1916), reforçando o desejo do “sertão, a picada malgradada, e a vida afanosa e triste de pioneiro”.
De fato, a vida complicada e laboriosa do escritor fluminense fora agregada ao seu caráter de pioneiro, a desbravar outras paragens do território nacional, a exemplo de sua passagem pela região amazônica, em pleno apogeu do ciclo da borracha e de disputas territoriais entre Brasil e Peru, enquanto chefe da Comissão Brasileira de Reconhecimento do Alto Purus, tarefa que o levou ao mais distante do que poderia imaginar, chegando até a mais remota cabeceira do rio Purus, em território peruano.
Morto prematuramente aos 43 anos, em uma manhã de domingo, no dia 15 de agosto de 1909, Euclides da Cunha, com um espírito agitado e acreditando em seu destino de bandeirante, foi a síntese das mudanças que atravessaram o Brasil na virada do século XIX para o XX. Como bem pontuou Leandro Tocantins (1928-2004), um dos grandes intérpretes amazônicos do escritor, seus textos “são palavras que aformoseiam nossas próprias vidas”, ou façamos como sugeriu o engenheiro, escritor e historiador brasileiro Teodoro Sampaio (1855-1937), que tomemos as ideias de Euclides da Cunha e façamos desta Pátria “o teatro de uma esplêndida realidade, oficina do trabalho, fecundando-se num largo espírito de solidariedade humana”.
Além de Os Sertões (1902), somam-se à bibliografia de Euclides da Cunha as obras Contrastes e Confrontos (1907), Peru versus Bolívia (1907) e À Margem da História (1909).
Belém, 20/01/2018