Luís Fernando Ribeiro Almeida
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Linguagens e Cultura (PPGCLC), da Universidade da Amazônia (UNAMA). Desde 2009, pesquisador da vida e da obra do escritor fluminense Euclides da Cunha (1866-1909).
O primeiro, de certa maneira, ressalta o caráter otimista do sertanejo, tendo na fé o conforto, e a expectativa da chuva redentora, como bem destacado nas ações de Dona Inácia, personagem de “O Quinze” (1930), livro de estreia da cearense Rachel de Queiroz (1910-2003); porém, vendo-se sem condições de continuar, o mesmo sertanejo é obrigado a retirar-se da sua terra, seguindo para o litoral, como o Severino de João Cabral de Mello Neto, encontrando alguns “irmãos das almas” a carregarem outro retirante, ou debanda para outras paragens do imenso país. Interessante que no discurso, Getúlio Vargas cita a obra “A Bagaceira” (1928), romance do paraibano e então seu ministro, José Américo de Almeida (1887-1980), como um exemplo desse tipo de narrativa.
Reforçando a necessidade da adoção de medidas que ajudassem a amenizar as dificuldades ocasionadas pelas constantes secas na região, e lembrando que naquela altura os avanços das modernas técnicas da engenharia viriam a contribuir, menciona a construção de obras de canalização; barragens; sistemas de irrigação, bem como a construção de açudes, porém, buscou reforçar que, naquelas alturas, a principal dificuldade a enfrentar estaria no financiamento dos respectivos trabalhos. Findando suas considerações, recorreu às palavras de Euclides da Cunha (1866-1909), enfatizando: “[…] não devemos jamais esquecer o conceito contundente de Euclides da Cunha, afirmando termos com o Nordeste uma dívida de quatrocentos anos, até hoje não resgatada.”
As palavras de Getúlio Vargas fazem alusão direta às considerações do escritor fluminense contidas no capítulo I, de “A Terra”, bem como no capítulo V, de “O Homem”, de “Os Sertões” (1902), onde o escritor reforça a ideia de que enquanto o litoral recebia os “reflexos da vida civilizada”, o sertão jazia em uma penumbra secular.
Ao revisitar as páginas do “livro vingador”, Getúlio Vargas fez ressoar a importância que a obra ainda exercia no pensamento brasileiro – e exerce até hoje – uma vez que Euclides da Cunha soube capturar, com seu estilo peculiar, as contradições de um Brasil que, na época, início do século XX, abraçava os modismos europeus, em um “Vaudeville tropical”, como bem destaca o professor e pesquisador Márcio Souza.
Belém, 14/02/2018