Dizia o contador do caso que, há anos atrás, a cabana de zinco onde Euclides da Cunha trabalhou às margens do Rio Pardo, permanecia aberta. Naqueles “tempos em que se amarrava cachorro com linguiça”, não havia perigo ou ameaça àquele patrimônio histórico, nem sequer se falava em patrimônio histórico.
A psicologia e os estudos sobre a sexualidade humana têm muitos tratados acerca dos fetiches e fantasias sexuais, mas essa talvez mereça um capítulo específico.
Contam que os envolvidos eram apaixonados pelo escritor, pelo livro e pela ponte, queriam viver uma experiência amorosa surreal, transcendental, no mesmo local onde Os sertões foi concebido; não havia lugar mais apropriado para uma experiência quase metafísica do que lá, na cabana de zinco.
Para protagonizarem tamanha epopeia, certificaram-se do mais completo abandono das ruas, onde o único som a ser ouvido seria o canto das águas do Rio Pardo. E lá foram. Naquela noite de muita inspiração, amor e intensa troca de energia com o local, surgiram poemas, teses, uma produção intensa…
As horas avançavam quando, ao deixarem a cabana do amor e de inspiração, foram surpreendidos por um personagem que não deveria fazer parte desta crônica, pois pacientemente esperava sentado do lado de fora completamente ébrio.
Estáticos, quase em estado de choque, preocupados com a terrível descoberta, ficaram ali de olhos esbugalhados e ouviram o que deveria ser uma sentença condenatória, porém o que foi proferido foi mais uma grande confusão de personagens e épocas.
– Desculpa Doutor engenheiro, eu não queria atrapalhar, fiquei esperando do lado de fora, pois minha casa também é sua. Mas o Senhor poderia levar sua esposa para um lugar melhorzinho, sei que as coisas não andam bem no seu casamento e é sempre bom esquentar o clima, mas aqui o chão é muito duro e a mesa está com a perna quebrada…
Bem! Como terminou esse episódio? Não se sabe. A única verdade da qual podemos ter certeza é que a cabana tem sido trancada a chave há muitos anos.